Vãos - Conversa - Insônia

Vãos...

Muitas mudanças tem me deixado ansioso e preocupado, especialmente mudanças no trabalho. Não tenho tido muito tempo de escrever. Sinto falta pois ando pensando em muitas coisas diferentes. Voltei a lembrar mais de meus sonhos, os pensamentos andam soltos sem pouso, as palavras não dão conta de tudo que se passa ou passa por mim. Acho que existe uma apreensão do mundo que vai além de cada detalhe. Como se fosse possível um sentir de todos os pensamentos e impressões, uma impressão geral, um pensamento maior de todos que possamos ter sobre cada coisa.

8-)

Conversa
...
- Não, por enquanto estou apenas na investigação.
...
- Claro que sim! Se eu descobrir alguma coisa pretendo escrever sobre isto e publicar
...
- É... Eu ainda sigo disfarçado de gente normal.
...
- Não sei. Não sei até quanto... A verdade é que não gosto da mesmice de ser diferente.

8-)

Este é um "mini-conto" que escrevi uma vez para o paralelos; com a proposta de que tivesse 300 toques. Encontrei hoje no Google procurando pelo meu nome e resolvi reproduzir aqui:

Insônia

Levanta, vai até a cozinha, toma um gole de água e olha em volta: nada. Procura o cigarro. Acende, dá um trago e olha pela janela: nada. Deita no sofá e liga a televisão procurando algo: nada. Liga para ela. Horas de conversa, briga, provocações, choro e riso. Volta para a cama e dorme como um bebê.

Paciência

Paciência

Composição: Lenine e Dudu Falcão

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não pára...

Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara...

Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência...

O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência...

Será que é tempo
Que lhe falta prá perceber?
Será que temos esse tempo
Prá perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Mesmo quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára
A vida não pára não...

Será que é tempo
Que lhe falta prá perceber?
Será que temos esse tempo
Prá perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára
A vida não pára não...

A vida não pára!...
A vida é tão rara!...

Aniversário

Nasci na Casa de Saúde São José, no Humaitá, no dia de todos os santos, na véspera do dia de finados. Do lado da Lagoa Rodrigo de Freitas e aos pés do Morro do Corcovado.

Cresci entre Madureira, Tijuca e Andaraí. Bairros da minha infância, adolescência e início da vida adulta. Para mim mais do que acontecimentos casuais os locais e as datas importantes na minha vida determinaram em muito meus caminhos, meu aprendizado e assim, também o meu ser.

É o que algumas pessoas chamam de sincronicidade. Só que disto prefiro não falar agora.

Tenho medo de morrer e tenho medo de deixar de ser.

Digo isto porque os aniversários sempre me lembram que vivemos em um intervalo entre dois eventos: nascer e morrer. E estes eventos são a materia prima que se entrelaçam e constituem o fio da vida. Nascemos e morremos a todo instante ou não estamos vivos.

Já conheci pessoas que me disseram não terem o medo de morrer mas que viviam com medo da dor, do vazio e do desconhecido. Hoje tenho a certeza de que só não tem medo de deixar esta vida as pessoas que estão doentes, os que escolhem por não-ser e os iluminados.

Os iluminados, os santos provavelmente já transcenderam tudo isto. No dia de todos os santos celebram os santos conhecidos e todos os outros desconhecidos. Também nós temos este potencial para transcender as ilusões e a fragilidade da vida.

E o fio da vida é muito frágil! Me recordo das vezes em que "quase morri". Situações parecidas com outras em que vejo ou sei de pessoas que morrem mesmo. E todas as vezes me ponho a pensar como poderia ter sido minha vez. Mas não foi.

Até quando?

Não me deram o poder de conhecer o futuro nem o poder de reter a vida. Na verdade não me deram poder quase nenhum. Sou um ser sem poderes. Podado. Limitado. Aliás, falta-me até o poder de conhecer meus poderes e limitações.

Limitadíssimo!

Então com todas as minhas limitações, fraquezas, ignorâncias e tudo que raramente aguento ver nos outros e menos ainda em mim, confesso que errei muito! Também aprendi muito mas não adianta muito não. Confesso que repito erros e escolhas ruins que já deveria evitar.

Pior, algumas vezes erro com a consciência do erro. Assisto de camarote meu ser dar os passos em direção de escolhas que repetem o que já me prometera evitar. Naturalmente com justificativas tolas e com o orgulho e arrogância dos que desafiam seus limites.

Então também já me arrependi várias vezes. Aliás já conheci pessoas que não se arrependem e pessoas que não erram. Com o passar do tempo, entendi que estas pessoas erram como todos e se arrependeriam se fossem capazes de ver com clareza.

Ver é mais do que um sentido: é uma escolha.

Ver de verdade pode ser doloroso e nem todos querem correr este risco. É duro mas é assim mesmo. Algumas vezes sofremos e nos preocupamos mas não te iluda: estas pessoas não sofrem. Foram eles que inventaram o ditado: o que os olhos não vêem o coração não sente.

Cuida de ti e da tua gente.

E minha gente são os que escolhem ver e não se furtam de sentir, nem de sofrer o que tem de ser sofrido. Eu gosto mais desta gente que tem medo de morrer porque gosta de viver, porque nasce e morre todo dia, porque erra e se arrepende porque vê no que errou.

Gente que se pergunta todo dia o que é o certo e o que é o errado. Porque o certo e o errado nunca ficam no mesmo lugar. E mesmo que junte um monte de gente sábia e escreva na pedra o que é certo e o que é errado as pessoas mudam, as coisas mudam e um dia está tudo invertido.

Gente que gosta do conforto e das coisas boas deste mundo mas que sente o mundo invizível em que vivemos mergulhados. Gente que sabe que toda segurança é ilusão e que tudo está por um triz e que o mal existe e que viver não é mole. Gente que não veio a passeio...

Ver e sentir a vida que flui: nascimentos e mortes.

Oxalá possa seguir morrendo e nascendo todo dia, sendo todo dia e sempre perto das pessoas cujos olhos nem sempre vêem mas cujo coração advinha e sente. Seja assim até o dia de perder a consciência de ser que conheço hoje. Quem sabe se outra consciência serei?

Hoje faz uma semana que celebrei meu aniversário, a presença nesta vida, a escolha e as dificuldades em ser, os arrependimentos e tudo que vivi. Celebrei os encontros com tantas pessoas importantes para mim que ficaram ou que se foram.

Celebrei também a esperança do que pode ser vivido, do porvir, a esperança que vêm nas tramas misteriosas destes nascimentos e mortes. Celebração de mistérios.

Dia de todos os santos que antecede o dia de finados: feriado e pessoas queridas longe.

Não houve festa mas celebrações tranquilas com pessoas queridas que encontrei e saudades das pessoas queridas que estavam longe. Abraços, beijos, sorrisos e palavras calorosas ditas ou cantadas. Emoções fortes, lágrimas de alegria e sorrisos de satisfação.

Também ganhei cumprimentos formais, alguns secos e alguns meio duros. Cada pessoa dá o que pode e quer. A gente também aprende sobre as pessoas assim. Agradeci e compreendi que nem todos me amam do mesmo modo e alguns nem amam. Isto me fez bem também.

Sigo, nesta marcha pelo fio da vida neste mundo
Até que a materia do nascer e morrer se rompa.

Uma semana para entender tudo isto: nada mal...
João e Maria



Agora eu era o herói

E o meu cavalo só falava inglês

A noiva do cowboy

Era você

Além das outras três

Eu enfrentava os batalhões

Os alemães e seus canhões

Guardava o meu bodoque

E ensaiava um rock

Para as matinês


Agora eu era o rei

Era o bedel e era também juiz

E pela minha lei

A gente era obrigada a ser feliz

E você era a princesa

Que eu fiz coroar

E era tão linda de se admirar

Que andava nua pelo meu país


Não, não fuja não

Finja que agora eu era o seu brinquedo

Eu era o seu pião

O seu bicho preferido

Sim, me dê a mão

A gente agora já não tinha medo

No tempo da maldade

Acho que a gente nem tinha nascido


Agora era fatal

Que o faz-de-conta terminasse assim

Pra lá deste quintal

Era uma noite que não tem mais fim

Pois você sumiu no mundo

Sem me avisar

E agora eu era um louco a perguntar

O que é que a vida vai fazer de mim


Letra: Chico Buarque

Melodia: Sivuca

Ano: 1977