Receita de Ano Novo

Boas Festas

Queria lhes desejar Boas Festas mas sei que alguns amigos e amigas passaram e estão passando por momentos difíceis em suas vidas. Problemas de saúde, financeiros, perdas etc.

Muitos de nós tivemos muitos destes momentos difíceis e não podemos garantir que estaremos livres de outros no próximo ano e nos anos seguintes.

Hoje acredito que é importante que cada um de nós possa estar atento e consciente do que lhe acontece. Somente assim poderemos evitar as armadilhas, os acidentes e males que podem ser evitados. Parece óbvio mas não é. Parece fácil mas não é.

Queria muito que todos nós pudéssemos nos manter sem desvios nesta busca de consciência e de auto-conhecimento. Uma busca que não seja orientada por padrões externos e objetivos morais mas orientada pelos nossos princípios e valores.

Princípios e valores que só podemos desenvolver e consolidar quando nos questionamos e nos colocamos em uma atitude de aprendizado com humildade e determinação.

Porém, nem tudo se pode ver, nem tudo se pode evitar e por isto é preciso também ser forte e manter a chama da fé e da esperança para suportar as dificuldades sem abrirmos mão de nossos valores, de nosso ser e do que nos traz vida.

Mesmo que este Natal não seja como gostaríamos, ainda é a época em que celebramos a vinda da Boa Nova e podemos desejar o melhor para as pessoas que amamos e queremos bem. Para que o melhor seja agora, amanhã, no próximo ano e em todos os dias, meses e anos seguintes.

Oxalá que a partir de agora todos os dias da tua vida sejam cada vez mais o palco de teus desejos e sonhos com muita paz, saúde, amor e felicidade para ti e todos os que ama.

São meus votos sinceros!

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Pesquisa


Final de ano, inevitável refletir sobre tudo o que foi vivido durante o ano e fazer planos para o novo ano. Estou pensando em fazer algumas mudanças no blog.

Assim, gostaria de saber de outras idéias e sugestões das pessoas que me lêem.

Também quero conhecer os leitores e saber porque lêem o blog: o que gostam, o que não gostam, o que acha que pode ser melhorado etc. Estou realmente aberto a críticas e sugestões.

Sei que algumas pessoas preferem não escrever comentários então estou disponibilizando um email para que as pessoas possam me escrever e me contarem o que acham do blog e se possível me apresentarem sugestões e dicas.

O email é este:

notasdeumajornada@gmail.com

Aguardo suas mensagens!

Sobre o amor

"O amor vem de onde menos se espera quando não se está procurando por ele. Sair à procura do amor nunca resulta na chegada do parceiro certo e só cria melancolia e infelicidade. O amor nunca está fora de nós, mas dentro de nós."
Louise Hay

"O amor não consiste em fitar um ao outro, mas em olhar juntos na mesma direção."
Antoine de Saint-Exupéry

"Quando o homem e uma mulher com significativas afinidades espirituais e psicológicas se encontram e se apaixonam um pelo outro, se eles já dominaram a ansiedade que os problemas e as dificuldades pessoais provocam e ultrapassaram o nível de simplesmente lutar para fazer seu relacionamento "funcionar", o amor romântico proporciona-lhes então não apenas a felicidade sexual e emocional, mas também os ajuda a atingir níveis mais elevados de crescimento pessoal. Ele torna-se o contexto para um contínuo encontro com o self, o si-mesmo, através do processo de interação com outro self. Duas consciências, cada uma dedicada à sua evolução pessoal, podem proporcionar, uma à outra, um extraordinário estímulo e desafio. O êxtase pode, então, tornar-se parte de sua vida. O amor romântico não é um mito que deve ser rejeitado, pois, para a maioria de nós, é uma revelação que ainda aguarda sua hora de nascer."
Nathaniel Branden

"O amor é um mestre admirável que nos ensina a sermos o que nunca fomos; e, muitas vezes, com as suas lições, muda completamente, num instante, os nossos costumes."
Molière

"Amar... é uma ocasião sublime para o indivíduo amadurecer, tornar-se algo em si mesmo, tornar-se um mundo para si, por causa de um outro ser; é uma grande e ilimitada exigência que se lhe faz, uma escolha para longe."
Rainer Maria Rilke

"O amor é uma flor delicada, mas é preciso ter a coragem de ir colhê-la à beira de um precipício."
Sthendal

"Os sofrimentos do amor devem enobrecer, não degradar."
George Sand

Mudanças de planos

Cheguei em São Paulo no Domingo. Deveria ter vindo no Sábado mas perdi a conexão e fui obrigado a dormir em Washington e pegar o vôo somente no dia seguinte.

Para aproveitar as horas que estive ali, e aproveitando a sugestão de um colega de viagem que conheci nos balcões da companhia aérea, fomos visitar a alguns pontos turísticos na cidade.

Para um tour de algumas horas como este, gastamos 6 dólares saindo do aeroporto de ônibus para o centro e andando na maior parte do tempo. É verdade, somente isto.

Visitei a Casa Branca, o Capitólio, vimos o Monumento de Washington, e pude ver de perto no Smithsonian Institute obras de Monet, Rembrand, Magrite, Da Vinci, Degard, Renoir e outros. Não pudemos ver muita coisa mas foi uma tarde muitissimo interessante.

Me parece que nas viagens o que fica em nossa memória como mais interessante e rico são sempre as mudanças de planos, os imprevistos e as dificuldades superadas quando estamos dispostos para as novas experiências e nos dispomos ao risco das mudanças de planos.

Neve

Estou contente porque hoje vi pela primeira vez na minha vida a neve cair. Me sinto como criança que vê uma coisa diferente pela primeira vez na vida. É muito bonito!

Estou em Burlington no estado de Massachusetts, EUA. Vim para um treinamento. Já estive aqui antes mas esta é a primeira vez que vejo neve aqui ou na minha vida.

Quando cheguei, no Domingo, uma espécie de gelo congelado cobria os cantos das calçadas e os canteiros das ruas. Havia nevado antes de minha chegada e me parece que a neve derrete e congela formando uma casquinha. Fica parecido com aquele gelo que se forma no freezer.









Este gelo foi derretendo e hoje quando estava quase tudo derretido começou a nevar.

Quando meu filho tinha 1 ou 2 anos eu imaginava que se alguém começasse a flutuar no ar ele olharia para nós com a mesma surpresa com que via alguma um besouro andando no chão. Para ele tudo era naturalmente um novo aprendizado, seus olhos brilhavam com tudo!

Perdemos (pelo menos eu perdi) esta capacidade de nos surpreendermos e nos admirarmos com as coisas ao redor. Talvez daqui a alguns vários anos ver a neve cair não seja mais novidade para mim mesmo que eu continue achando ela muito bonita.

Mas hoje eu tive esta experiência. E como é bonita! Bonita a neve caindo e cobrindo as plantas, os carros, os prédios e o chão. Bonita e rica a experiência de me surpreender e me admirar como meu filho se surpreendia e se admirava.

Também foi bom poder passar por isto com a consciencia de estar presente diante de algo que me admirava e assim, procurar guardar com muito cuidado esta impressão e os sentimentos que tive novamente ao presenciar um fenômeno pela primeira vez.


Feliz aqui!

Conforto

Existe uma ilusão de que a tecnologia é benéfica para as pessoas.

Hoje temos muitas opções de comunicação: email, telefone, celular, messenger etc. No entanto, dizemos cada vez menos. Veja o exemplo do email onde um dos usos mais comums é trocar arquivos de fotos, filmes e apresentações com mensagens que foram feitas por outros.

Existem carros, computadores, internet, iPod, DVD, televisão digital, HDTV etc. Tudo isto "facilita" a vida e nos dá mais conforto. No entanto, trazem outros compromissos com o cuidado necessário com estas máquinas.

E também existem as dezenas de serviços associados em geral a estas novas tecnologias e novos hábitos: internet, telefonia, TV por assinatura etc.

Tudo isto nos trouxe novos gastos. Gastos que nos exigem ganhar mais, o que exige trabalhar mais e que nos dá menos tempo para aproveitar todas as facilidades da vida.

As pessoas estão perdendo a originalidade. As pessoas se falam menos. As pessoas tem menos tempo para estarem umas com as outras. Na verdade as pessoas tem cada vez menos tempo para estarem sozinhas e cuidarem de si.

O conforto e a facilidade das tecnologias podem ter um custo muito alto.

Renúncia - Manuel Bandeira

Renúncia

Chora de manso e no íntimo... Procura
Curtir sem queixa o mal que te crucia:
O mundo é sem piedade e até riria
Da tua inconsolável amargura.

Só a dor enobrece e é grande e é pura.
Aprende a amá-la que a amarás um dia.
Então ela será tua alegria,
E será, ela só, tua ventura...

A vida é vã como a sombra que passa...
Sofre sereno e de alma sobranceira,
Sem um grito sequer, tua desgraça.

Encerra em ti tua tristeza inteira.
E pede humildemente a Deus que a faça
Tua doce e constante companheira...

Vãos - Conversa - Insônia

Vãos...

Muitas mudanças tem me deixado ansioso e preocupado, especialmente mudanças no trabalho. Não tenho tido muito tempo de escrever. Sinto falta pois ando pensando em muitas coisas diferentes. Voltei a lembrar mais de meus sonhos, os pensamentos andam soltos sem pouso, as palavras não dão conta de tudo que se passa ou passa por mim. Acho que existe uma apreensão do mundo que vai além de cada detalhe. Como se fosse possível um sentir de todos os pensamentos e impressões, uma impressão geral, um pensamento maior de todos que possamos ter sobre cada coisa.

8-)

Conversa
...
- Não, por enquanto estou apenas na investigação.
...
- Claro que sim! Se eu descobrir alguma coisa pretendo escrever sobre isto e publicar
...
- É... Eu ainda sigo disfarçado de gente normal.
...
- Não sei. Não sei até quanto... A verdade é que não gosto da mesmice de ser diferente.

8-)

Este é um "mini-conto" que escrevi uma vez para o paralelos; com a proposta de que tivesse 300 toques. Encontrei hoje no Google procurando pelo meu nome e resolvi reproduzir aqui:

Insônia

Levanta, vai até a cozinha, toma um gole de água e olha em volta: nada. Procura o cigarro. Acende, dá um trago e olha pela janela: nada. Deita no sofá e liga a televisão procurando algo: nada. Liga para ela. Horas de conversa, briga, provocações, choro e riso. Volta para a cama e dorme como um bebê.

Paciência

Paciência

Composição: Lenine e Dudu Falcão

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não pára...

Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara...

Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência...

O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência...

Será que é tempo
Que lhe falta prá perceber?
Será que temos esse tempo
Prá perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Mesmo quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára
A vida não pára não...

Será que é tempo
Que lhe falta prá perceber?
Será que temos esse tempo
Prá perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára
A vida não pára não...

A vida não pára!...
A vida é tão rara!...

Aniversário

Nasci na Casa de Saúde São José, no Humaitá, no dia de todos os santos, na véspera do dia de finados. Do lado da Lagoa Rodrigo de Freitas e aos pés do Morro do Corcovado.

Cresci entre Madureira, Tijuca e Andaraí. Bairros da minha infância, adolescência e início da vida adulta. Para mim mais do que acontecimentos casuais os locais e as datas importantes na minha vida determinaram em muito meus caminhos, meu aprendizado e assim, também o meu ser.

É o que algumas pessoas chamam de sincronicidade. Só que disto prefiro não falar agora.

Tenho medo de morrer e tenho medo de deixar de ser.

Digo isto porque os aniversários sempre me lembram que vivemos em um intervalo entre dois eventos: nascer e morrer. E estes eventos são a materia prima que se entrelaçam e constituem o fio da vida. Nascemos e morremos a todo instante ou não estamos vivos.

Já conheci pessoas que me disseram não terem o medo de morrer mas que viviam com medo da dor, do vazio e do desconhecido. Hoje tenho a certeza de que só não tem medo de deixar esta vida as pessoas que estão doentes, os que escolhem por não-ser e os iluminados.

Os iluminados, os santos provavelmente já transcenderam tudo isto. No dia de todos os santos celebram os santos conhecidos e todos os outros desconhecidos. Também nós temos este potencial para transcender as ilusões e a fragilidade da vida.

E o fio da vida é muito frágil! Me recordo das vezes em que "quase morri". Situações parecidas com outras em que vejo ou sei de pessoas que morrem mesmo. E todas as vezes me ponho a pensar como poderia ter sido minha vez. Mas não foi.

Até quando?

Não me deram o poder de conhecer o futuro nem o poder de reter a vida. Na verdade não me deram poder quase nenhum. Sou um ser sem poderes. Podado. Limitado. Aliás, falta-me até o poder de conhecer meus poderes e limitações.

Limitadíssimo!

Então com todas as minhas limitações, fraquezas, ignorâncias e tudo que raramente aguento ver nos outros e menos ainda em mim, confesso que errei muito! Também aprendi muito mas não adianta muito não. Confesso que repito erros e escolhas ruins que já deveria evitar.

Pior, algumas vezes erro com a consciência do erro. Assisto de camarote meu ser dar os passos em direção de escolhas que repetem o que já me prometera evitar. Naturalmente com justificativas tolas e com o orgulho e arrogância dos que desafiam seus limites.

Então também já me arrependi várias vezes. Aliás já conheci pessoas que não se arrependem e pessoas que não erram. Com o passar do tempo, entendi que estas pessoas erram como todos e se arrependeriam se fossem capazes de ver com clareza.

Ver é mais do que um sentido: é uma escolha.

Ver de verdade pode ser doloroso e nem todos querem correr este risco. É duro mas é assim mesmo. Algumas vezes sofremos e nos preocupamos mas não te iluda: estas pessoas não sofrem. Foram eles que inventaram o ditado: o que os olhos não vêem o coração não sente.

Cuida de ti e da tua gente.

E minha gente são os que escolhem ver e não se furtam de sentir, nem de sofrer o que tem de ser sofrido. Eu gosto mais desta gente que tem medo de morrer porque gosta de viver, porque nasce e morre todo dia, porque erra e se arrepende porque vê no que errou.

Gente que se pergunta todo dia o que é o certo e o que é o errado. Porque o certo e o errado nunca ficam no mesmo lugar. E mesmo que junte um monte de gente sábia e escreva na pedra o que é certo e o que é errado as pessoas mudam, as coisas mudam e um dia está tudo invertido.

Gente que gosta do conforto e das coisas boas deste mundo mas que sente o mundo invizível em que vivemos mergulhados. Gente que sabe que toda segurança é ilusão e que tudo está por um triz e que o mal existe e que viver não é mole. Gente que não veio a passeio...

Ver e sentir a vida que flui: nascimentos e mortes.

Oxalá possa seguir morrendo e nascendo todo dia, sendo todo dia e sempre perto das pessoas cujos olhos nem sempre vêem mas cujo coração advinha e sente. Seja assim até o dia de perder a consciência de ser que conheço hoje. Quem sabe se outra consciência serei?

Hoje faz uma semana que celebrei meu aniversário, a presença nesta vida, a escolha e as dificuldades em ser, os arrependimentos e tudo que vivi. Celebrei os encontros com tantas pessoas importantes para mim que ficaram ou que se foram.

Celebrei também a esperança do que pode ser vivido, do porvir, a esperança que vêm nas tramas misteriosas destes nascimentos e mortes. Celebração de mistérios.

Dia de todos os santos que antecede o dia de finados: feriado e pessoas queridas longe.

Não houve festa mas celebrações tranquilas com pessoas queridas que encontrei e saudades das pessoas queridas que estavam longe. Abraços, beijos, sorrisos e palavras calorosas ditas ou cantadas. Emoções fortes, lágrimas de alegria e sorrisos de satisfação.

Também ganhei cumprimentos formais, alguns secos e alguns meio duros. Cada pessoa dá o que pode e quer. A gente também aprende sobre as pessoas assim. Agradeci e compreendi que nem todos me amam do mesmo modo e alguns nem amam. Isto me fez bem também.

Sigo, nesta marcha pelo fio da vida neste mundo
Até que a materia do nascer e morrer se rompa.

Uma semana para entender tudo isto: nada mal...
João e Maria



Agora eu era o herói

E o meu cavalo só falava inglês

A noiva do cowboy

Era você

Além das outras três

Eu enfrentava os batalhões

Os alemães e seus canhões

Guardava o meu bodoque

E ensaiava um rock

Para as matinês


Agora eu era o rei

Era o bedel e era também juiz

E pela minha lei

A gente era obrigada a ser feliz

E você era a princesa

Que eu fiz coroar

E era tão linda de se admirar

Que andava nua pelo meu país


Não, não fuja não

Finja que agora eu era o seu brinquedo

Eu era o seu pião

O seu bicho preferido

Sim, me dê a mão

A gente agora já não tinha medo

No tempo da maldade

Acho que a gente nem tinha nascido


Agora era fatal

Que o faz-de-conta terminasse assim

Pra lá deste quintal

Era uma noite que não tem mais fim

Pois você sumiu no mundo

Sem me avisar

E agora eu era um louco a perguntar

O que é que a vida vai fazer de mim


Letra: Chico Buarque

Melodia: Sivuca

Ano: 1977

Dica de Teatro: Adeotas

Elenco: Gero Camilo, Marat Descartes e Caco Ciocler
Temporada: de 14/09 a 25/11 de 2007.



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Os atores Gero Camilo e Marat Descartes interpretam a trajetória de Levi e Elias, dois amigos de infância, que se reencontram em fragmentos de memória na pequena cidade de Coti das Fuças.

“… um dia desses na vida, depois de bastante ter ido, regressei aldeota de amigos. Tinha quase outro olho. Era tudo mesmice de boa gente. A casa, a rua, passeios de adormecer de sol. Até o tempero era o mesmo, banhando a boca de desejo de comida de mãe…”
>>

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Lembrete


Só irrita e incomoda o que de algum modo nos diz respeito e reconhecemos como verdadeiro.





Presentes de Casamento

Faz um pouco mais de 2 anos que encontrei meu amigo apaixonado e feliz. Ele me contou da mulher que reencontrou e que entrou em sua vida com plenitude e a transformou. Eu achei muito bonito tudo que ouvi porque também fez eco com tudo que eu vivia no momento e registrei em algumas linhas que estão abaixo:

Descarrilamento

Ele sempre foi uma pessoa organizada. Tinha seu trabalho, sua casa e seus objetivos pessoais e profissionais.

Quando a conheceu perdeu a linha. Saiu do trilho. Todas as suas convicções ruiram de uma hora para a outra.

Ela se meteu na sua casa, na sua vida pessoal e mesmo na vida profissional. Ele se transformava diante de todos.

Um dia, confessou um tanto assustado que mesmo diante de todas as mudanças que ela trazia para sua vida, ele a amava e estava feliz.


Setembro de 2005

Hoje eles se casam e deixo neste blog um presente para os noivos: alguns versos que gosto. Dois estilos diferentes, versos de poetisa e versos de poeta. Versos que tratam de plenitude, compromisso, escolha e entrega. Versos que me lembram como somos limitados, finitos e como temos estes anseios por transcendermos estas condições.

Para vocês, Gustavo e Patrícia com meus votos de felicidades do amigo querido:

Casamento

Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.

O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva.

Adélia Prado

Soneto da fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa (me) dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes

Até logo...

Companheiros

Como o pão, com a manteiga e o café, companheiros do dia.
Como o vinho ou uísque, companheiros da noite.
Estes nunca me pediram para deixar de ser eu mesmo.

Quando eu ligo, não me perguntam porque eu estava sumido.
Gostam de ouvir as coisas loucas que eu tenho para falar.
Sabem dar o alimento de que vivem os sonhadores.

Nunca me trataram com condescendência.
Se nos perdemos no silêncio, alguém sempre pergunta:
- Que porra é esta que está acontecendo?

E começamos longo papo que não tem hora para acabar.
Lá pelas tantas, eu me esqueço e como, bebo e pronto.
Entram, tornam a ser parte do que sou e a vida segue.

Nos encontramos de novo, de dia ou de noite.
Ficamos felizes e fazemos aonde for a nossa casa.
Conversas que nunca terminam: são interrompidas.

Encontrar alguém assim:
Meio pão com manteiga, meio café, vinho e uísque.

Sigo a busca, sem pressa:
Só tenho precisão.

Se não encontro, procuro mais:
Não importa onde, nem como e nem quando.

Setembro de 2005

A um ausente

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu,

enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

Carlos Drummond de Andrade

Boa Sorte

Para todos que precisam de sorte
Mesmo que tenham se preparado
Ainda que tenham cuidado de tudo
Apesar de não haver nenhum risco

Boa sorte vos desejo

Porque da boa sorte ninguém prescinde
Ainda que não confie na sorte
Mesmo que não acredite ter sorte
Apesar de não ver necessidade

Todos precisamos de sorte

Principalmente os que se lançam
Nas empreitadas difíceis
Nos caminhos desconhecidos
Ou sem medo, sem cuidado...

Boa sorte vos desejo de coração

Este é meu voto hoje e sempre
Para que a gente vença os obstáculos
Possamos assim superar nossos limites
Até que possamos um dia, talvez...

Compreender

Meu coração vos deseja
Saúde, Felicidade
Paz, Amor

E muito boa sorte!



Paixão

O que muitas vezes chamamos de paixão são gostos, desejos, vaidades, obsessões e espasmos do ego. Estas paixões podem ser prazerosas mas cegam, perturbam, tiram o sono... Queimam e se apagam: paixão não dura.

Acontece que para mim existe outra forma de paixão que dura... Uma paixão que se revela nas obras e nos atos feitos com cuidado, dedicação, entrega e até mesmo um certo martírio. Não suprime a inteligência e a reflexão mas destas exige o máximo: clareza, intensidade, exclusividade e compromisso.

Este estado do ser pede o máximo de tudo e de todos, transcende a mediocridade e justo por isto o que se faz com paixão incomoda muito mas resiste ao tempo e as dificuldades e se reflete com uma qualidade que qualquer um reconhece, todos almejam mas poucos realmente conquistam. Diria até que raros conquistam.

E são raros justo porque não existe esta conquista apaixonada sem sacrifício, sem perder o controle, sem abrir mão do poder, sem a entrega de quem compreende a precariedade da vida, sem aceitar a dor que toda transformação e criação verdadeira exigem das coisas e das pessoas envolvidas. Escolher a paixão é parte do exercício da liberdade humana. E até por isto é difícil.

Os grandes mestres falam disto mas nem sempre ouvimos e raramente compreendemos que isto não se restringe a genialidade. Cada ser escolhe ou não, buscar a vida com paixão.

Eros e Psique de Fernando Pessoa

...E assim vêdes, meu Irmão, que as verdades
que vos foram dadas no Grau de Neófito, e
aquelas que vos foram dadas no Grau de Adepto
Menor, são, ainda que opostas, a mesma verdade.
(Do Ritual Do Grau De Mestre Do Átrio
Na Ordem Templária De Portugal)

"La Belle au Bois Dormant"
Paul Gustave Doré

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

Dicas, idéias e atividades

O blog do Fabricio Carpinejar (tá na minha lista de preferidos aí do lado). Pelo menos o seu último "post" pode ajudar algumas pessoas a repensarem a maneira como vivem em família... Se não ajudar pelo menos serve para dar algumas risadas quando vemos como muitas pessoas realmente vivem e encaram os relacionamentos.

O filme "Um Herói do Nosso Tempo" que é (uma ficção?) sobre a estória de um garoto cristão etíope que foge para Israel com os judeus etíopes em 1984 (um fato real). Em 1984 eu estava entrando na faculdade de engenharia... E pessoas viviam situações horríveis do outro lado do mundo. Um filme muito bonito e bem feito apesar de algumas atuações mais fracas, um filme que desperta.

Os vídeos do Café Filosófico que alguns colocam na internet (You Tube e Google Video) para que outros possam usufruir de várias palestras e discussões deste programa que passa todos os domingos na TV Cultura as 22h. Para filtrar, basta colocar no You Tube ou no Google Video isto: "Café Filosófico CPFL".

Mudar algo na vida.... Acordar uma hora mais cedo e dar uma volta no quarteirão ou sair de casa e andar por alguns minutos como se estivesse procurando alguém.

Escrever uma carta para um amigo que anda afastado e mandar pelo correio. Escreva cartas para muitos amigos. Escreva cartas para você mesmo ler daqui a um mês, daqui a um ano, daqui a 5 anos, daqui a 10 anos... Escreva cartas para lerem quando você morrer!

Ir para a cozinha e experimentar uma receita diferente. Eu experimentei outro dia fazer canjica. Não ficou boa sem coco ralado mas tive algumas ideias para melhorar...

Procurar um meio de reduzir o número de coisas na casa, no armário, nas gavetas, nas pastas do computador... Tudo isto nos pesa demais. Você nem imagina como é bom se livrar de coisas que não usamos.

Andar menos de carro.

Não ficar muito tempo no computador. O computador e a internet são legais mas é fácil se perder aqui. Lembre que nada é de graça. O tempo que passamos aqui é o tempo que não passamos fazendo outras coisas. Não tem nada para fazer? Invente! Não tem idéias? Bem, então é crítico: você precisa mesmo ficar mais tempo longe do computador, da internet e da TV. Não faça esta ferramenta ser mais do que é.

Se sobrar tempo demais, leia um livro, se não tem dinheiro, pegue na livraria, peça emprestado ou pegue na internet (veja alguns sites com livros de graça aí do lado).

Se estiver triste, durma, chore, ligue para um amigo e conte como se sente. Não preencha sua tristeza, não a evite... Faz parte também.

:)

Notas do final de semana

Não olhe para trás,
Olhe ao redor.

Não pense no que poderia ter sido,
Veja o que é e como é. Escolha então um caminho.

Não lamente o que se partiu, o que se foi...
Agora é sonhar, criar e fazer o novo.

Não tenha medo de não conseguir,
Porque não existe lugar para chegar.

Não cultive o desejo da posse,
Liberte, liberte-se.

Coisas boas de verdade: saúde e paz.

Para todos!

Discussões

Muitas vezes me envolvi em discussões que não resultaram em nenhum proveito para ninguém. Hoje, busco me envolver cada vez menos nisto. São discussões pouco objetivas e muitas vezes os ânimos são acirrados e as pessoas saem magoadas. Muitas vezes acabei falando coisas e assumindo posições com que nem concordo.

Algumas vezes é melhor perder a discussão e manter os afetos. Outras vezes é melhor calar, ir para o cantinho e ruminar nossa magoa. Porque toda magoa é uma experiência subjetiva. O que não me diz respeito não me afeta.

Além do mais, se realmente estamos certos sob determinado assunto, porque nos importarmos em fazer o outro concordar? Se não estamos certos, podemos rever nossa posição. E se nenhuma das posições está certa? E se ambas estão?

Ninguém é perfeito.

Dizemos isto para lembrar que todos podemos errar, todos podemos falhar. O difícil é lembrar quando nos sentimos agredidos ou confrontados. O mais difícil da condição humana é viver com o fato de que "temos costas". Não vemos o que se passa atrás. Se é que vemos até o que se passa na frente.

Querer provar que estamos certos, mesmo sobre nós mesmos é querer impor uma opinião. Se estamos certos, a vida dará seu testemunho na hora certa. E se não der, a verdade é que muito pouco podemos fazer.

Então para que se debater?

Manhã com o amigo Drummond

Acordar, viver

Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.

Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?

Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?

Ninguém responde, a vida é pétrea.

Não passou

Passou?
Minúsculas eternidades
deglutidas por mínimos relógios
ressoam na mente cavernosa.

Não, ninguém morreu, ninguém foi infeliz.
A mão- a tua mão, nossas mãos-
rugosas, têm o antigo calor
de quando éramos vivos. Éramos?

Hoje somos mais vivos do que nunca.
Mentira, estarmos sós.
Nada, que eu sinta, passa realmente.
É tudo ilusão de ter passado.

O mundo é grande

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.

Carlos Drummond de Andrade

Lembranças

Me lembrei hoje de uma senhora que conheci numa casa de repouso que eu costumava visitar. Esta senhora aposentada, fora auditora do tesouro federal, casara e criara suas duas filhas. O lugar era bem cuidado como ela também. Tinha boa comida, abrigo e a atenção das enfermeiras bem pagas e vestidas em seus uniformes impecáveis.

Me lembro em especial de um dia em que esta senhora nos disse de como gostava de nos ver lá. Ela tinha um problema de saúde que realmente tornava difícil para qualquer um estar ao lado dela sem bastante esforço. Não vou descrever o problema porque não quero agredir ninguém. Basta que entendam que realmente devia ser muito difícil para as filhas dela. Ela era uma pessoa inteligente e bem humorada mas nos confessou que se sentia muito só porque as filhas dela não a visitavam com frequencia e não tinha o convívio com a família.

Também me contou contente que já tinha um neto mas que ainda não o conhecia. O garoto já tinha alguns anos... Ela também me disse, quase que como um aviso - "Ainda bem que não dependo de minhas filhas e tenho minha aposentadoria para poder pagar esta casa!".

Nunca me esqueci disto e principalmente nos últimos dias de vida de minha avó. Ela morreu em um hospital público. Nos seus últimos dias quando não estava no leito ou nos corredores do hospital, vivia em casa sob os cuidados das filhas.

Ela também teve vários problemas de saúde e também era difícil estar com ela. Infelizmente ela só recebia uma pensão de meu avô que morreu bem cedo: um salário mínimo. A vida nunca lhe facilitou as coisas, desde menina pelo que sei foi assim. Tudo certo, afinal sabemos todos que só à poucos a vida passa sem dificuldades.

Tenho quase que certeza de que quase tudo que ela mais quis na vida foi poder ver os filhos e netos crescidos e felizes. Me lembro de quando ela pagou uma promessa que fizera se estivesse viva quando eu fizesse quinze anos. Achava que ia morrer antes... E a velha ainda viu todos os netos!

Minha avó viveu do modo que pode e sabia, não teve toda a assistência de que precisou e nos últimos dias viveu na total dependência dos outros.

Sentimos falta da Dona Margarida. Sinto sua falta agora mas quando me vieram estas lembranças, voltei a sentir sua presença e percebi como dependo dos outros.

E isto é bom.

If - Se

Atualizei o post If com uma tradução de Guilherme Almeida.

Sobre a condição humana

Eu gosto muito de uma imagem que criei nos úlgimos anos e que procuro ter sempre em mente. Somos como cegos andando por uma grande floresta.



Submetidos à esta cegueira nem sempre percebemos nossa condição e como somos fracos e limtados. Andamos em círculos, tropeçamos nas pedras, raízes e troncos. Sentimos fome, sede, frio, calor e tentamos nos manter vivos.



Muitos andam acreditando que devem ir para lá ou para cá. Buscam encontrar pessoas com que sonham, lugares e coisas. Alguns vão juntando o que recolhem na jornada.



Algumas vezes, tropeçam e perdem tudo. Algumas vezes precisam deixar algo para trás.



Algumas vezes esbarramos um nos outros. E para alguns isto é muito inconveniente porque atrapalha suas buscas, então desviam e seguem atentos com medo...



Outros não aprenderam e andam de braços abertos e de mãos vazias...



E quando encontram alguém, naturalmente, abraçam! E quando este alguém também está de mãos vazias e braços abertos... Ah! Ficam muito contentes e celebram!



Destes grandes encontros de braços abertos na escuridão alguns seguem de mãos dadas.



São raros estes encontros e nem sempre podemos seguir com as pessoas que encontramos porém, no mínimo, sempre são inesquecíveis porque são da ordem do que nos traz vida.



Então procuro lembrar que estamos nesta floresta para os encontros. Só para isto.



Todo o resto é apenas o cenário desta tragédia em que brincamos ora como atores, ora como espectadores.

IF

IF you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you,
If you can trust yourself when all men doubt you,
But make allowance for their doubting too;
If you can wait and not be tired by waiting,
Or being lied about, don't deal in lies,
Or being hated, don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise:

If you can dream - and not make dreams your master;
If you can think - and not make thoughts your aim;
If you can meet with Triumph and Disaster
And treat those two impostors just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to, broken,
And stoop and build 'em up with worn-out tools:

If you can make one heap of all your winnings
And risk it on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breathe a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: 'Hold on!'

If you can talk with crowds and keep your virtue,
' Or walk with Kings - nor lose the common touch,
if neither foes nor loving friends can hurt you,
If all men count with you, but none too much;
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run,
Yours is the Earth and everything that's in it,
And - which is more - you'll be a Man, my son!

Rudyard Kipling (1865-1936), escritor britânico autor de várias obras e agraciado em 1907 com o Nobel de Literatura "em consideração ao seu poder de observação, criatividade, virilidade e talento memorável para as narrativas que caracterizam as criações deste autor mundialmente conhecido."

Segue uma tradução de Guilherme Almeida

Se

Se és capaz de manter a tua calma quando todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;

Se és capaz de crer em ti quando estão todos duvidando, e para esses no entanto achar uma desculpa;

Se és capaz de esperar sem te desesperares, ou, enganado, não mentir ao mentiroso, ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares, e não parecer bom demais, nem pretensioso;

Se és capaz de sonhar sem sem se tornar um sonhador

Se és capaz de pensar sem que a isso só te atires;

Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires tratar da mesma forma a esses dois impostores;

Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas em armadilhas as verdades que disseste, e as coisas, pôr que deste a vida, estraçalhadas, e refazê-las com o bem pouco que te reste;

Se és capaz de arriscar numa única parada tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,

E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada, resignado, tornar ao ponto de partida;

Se és capaz de forçar coração, nervos, músculos, tudo a dar seja o que for que neles ainda existe, e a persistir assim quando, exaustos, contudo resta a vontade em ti que ainda ordena: "Persiste!";

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes e, entre reis, não perder a naturalidade

Se entre amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,

Se a todos podes ser de alguma utilidade,

Se és capaz de dar, segundo pôr segundo, Ao mínimo fatal todo o valor e brilho,

Tua é a terra com tudo o que existe no mundo

E o que mais, tu serás um homem, ó meu filho!

[Rudyard Kipling - Tradução de Guilherme Almeida]



O poema acima é de 1910 e também tem um significado especial para mim. Fica aqui uma pequena homenagem ao homem que me ajudou um pouquinho a ser quem sou mesmo tendo vivido dezenas de anos antes.

Uma obra de Kipling que gosto bastante é "Kim". Outra obra mais conhecida mas que não li é "The Jungle Book" (O Livro da Selva) e que Walt Disney levou para o cinemas com o título no Brasil de "Mogli o menino Lobo".

Espero que todos nós tenhamos uma ótima semana, apesar de todas as dificuldades que possamos ter agora e sempre!

Versos em branco



Deixo nesta folha a vontade
Da poesia que nunca fiz
E que tão lida e relida
Existe mais que qualquer uma.

Uma poesia sem rima,
Ritmo, ou sentido.
Vazia e clara como um céu de primavera,
Mesmo que existam nuvens.

Uma poesia
falando dos sonhos
Falando do amor
Das distâncias e dos encontros.

Falando da tristeza daqueles
Que já não podem mais amar.

Cantando a beleza da vida
Dos que se lançam na arte de se dar.

Um poema que conte a vida dos bardos,
suas dores e vôos pelo infinito
Um poema que conte a sujeira da vida,
A nojeira e a grandeza das pessoas.

Versos que todos os dias dão a volta ao mundo,
Rápidos como beijo roubado,
E sempre com o mesmo cuidado.

E pousem, silenciosamente,
No alto de uma catedral,
Observando cidades, campos e mares
Tão cheios de amor e satisfação,
Que não caberiam nestas linhas.

Junho de 1986

Rotina

Acordar de um sonho (ou pesadelo?) que se dissipa nos primeiros minutos. Algo que se converte em pensamentos, lembranças e emoções, sentimentos e humores. Tudo misturado. Me sinto triste e sem ânimo de sair da cama. Deve ser apenas cansaço. Preciso pensar em coisas boas.

Algumas horas depois levanto sentindo o peso do corpo e vou até o banheiro e se inicia uma série de movimentos automáticos: escovar os dentes, barbear, banhar, vestir, arrumar as coisas na maleta, sair, cumprimentar os vizinhos, dirigir, estacionar, sentar, ler os emails, responder emails, verificar os casos, ligações, café da máquina, sentar de novo e continuar o trabalho...

Me rendo agora: sinto saudades, muita vontade de lhe falar, saber de seu dia, de seus dias, de seus meses... Sinto saudade de seus beijos, seus abraços, seu corpo... Saudades de seus cuidados, saudades de seu sorriso e de seu olhar.

Nada disto, nunca mais.

O bom se mistura com o ruim aqui dentro mas preciso continuar... Dar um passo de cada vez: andar sem olhar para trás ou para dentro. O que me resgata e me salva são as pessoas, o trabalho e o que gosto.

Hora do almoço.

In memorian: Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade
* 31/10/1902 + 17/08/1987



Mãos dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.



José

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, proptesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você consasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Reflexão para os tolos: Epílogos

Para ser lido pelos tolos que:

1. Ainda acreditam que estamos caminhando para uma sociedade melhor, com progresso e justiça para todos.

2. Ainda acreditam que alguns povos e países são mais desenvolvidos porque tem povos mais educados e preparados.

3. Ainda acreditam que isto tudo não tem nada a ver com eles mesmos, suas escolhas e atitudes do dia-a-dia.

Recomendo para estes, um poema de Gregório de Matos escrito lá pelos idos de 1600 que mostra claramente que pouca coisa mudou, muito pouca cousa!

Este POST não tem imagens mas se sentes falta é simples: abra as páginas dos noticiários dos últimos meses e releia vendo as imagens. Tenho certeza de que vai encontrar tudo que precisar em abundância. Eu estou farto.


Epílogos

Que falta nesta cidade?................Verdade
Que mais por sua desonra?..............Honra
Falta mais que se lhe ponha............Vergonha.

O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
numa cidade, onde falta
Verdade, Honra, Vergonha.

Quem a pôs neste socrócio?.............Negócio
Quem causa tal perdição?...............Ambição
E o maior desta loucura?...............Usura.

Notável desventura
de um povo néscio, e sandeu,
que não sabe, que o perdeu
Negócio, Ambição, Usura.

Quais são os seus doces objetos?.......Pretos
Tem outros bens mais maciços?..........Mestiços
Quais destes lhe são mais gratos?......Mulatos.

Dou ao demo os insensatos,
dou ao demo a gente asnal,
que estima por cabedal
Pretos, Mestiços, Mulatos.

Quem faz os círios mesquinhos?.........Meirinhos
Quem faz as farinhas tardas?...........Guardas
Quem as tem nos aposentos?.............Sargentos.

Os círios lá vêm aos centos,
e a terra fica esfaimando,
porque os vão atravessando
Meirinhos, Guardas, Sargentos.

E que justiça a resguarda?.............Bastarda
É grátis distribuída?..................Vendida
Que tem, que a todos assusta?..........Injusta.

Valha-nos Deus, o que custa,
o que El-Rei nos dá de graça,
que anda a justiça na praça
Bastarda, Vendida, Injusta.


Que vai pela clerezia?.................Simonia
E pelos membros da Igreja?.............Inveja
Cuidei, que mais se lhe punha?.........Unha.

Sazonada caramunha!
enfim que na Santa Sé
o que se pratica, é
Simonia, Inveja, Unha.

E nos frades há manqueiras?............Freiras
Em que ocupam os serões?...............Sermões
Não se ocupam em disputas?.............Putas.

Com palavras dissolutas
me concluís na verdade,
que as lidas todas de um Frade
são Freiras, Sermões, e Putas.

O açúcar já se acabou?.................Baixou
E o dinheiro se extinguiu?.............Subiu
Logo já convalesceu?...................Morreu.

À Bahia aconteceu
o que a um doente acontece,
cai na cama, o mal lhe cresce,
Baixou, Subiu, e Morreu.

A Câmara não acode?....................Não pode
Pois não tem todo o poder?.............Não quer
É que o governo a convence?............Não vence.

Que haverá que tal pense,
que uma Câmara tão nobre
por ver-se mísera, e pobre
Não pode, não quer, não vence.

Gregório de Matos


Digam aos tolos para não esquecerem: não devem apontar o dedo sujo para o nariz do outro porque tudo que está lá fora está dentro de cada um de nós também.

A vida começa em cada um de nós.

Retornando das Férias

Passei uns dias viajando e aterrisei novamente em meu apartamento, nesta cidade imensa, com o transito louco etc. Mas ainda estou ZEN... ainda consegui assistir a moça no seu truck ultrapassando uma longa fila de carros na Nhambiquaras pela contra-mão. Ela deve ser mais importante do que todos nós que esperávamos com paciência. Até quando ficarei ZEN? Não sei.

Ontem liguei o computador e ato automático meu corpo digitou senhas, teclas, cliques e os olhos verificaram os emails, recados etc. Eu só pude processar eles bem mais tarde, depois de assistir um filme muito interessante que comento a seguir, respondi alguns mais urgentes e fui me deitar com o dia clareando.

Dormir tarde sem preocupação com o day-after é um benefício das férias. Sem preço. Estou aproveitando todos eles. Sei que tenho andado meio ausente e relapso com o computador, celular etc. Ainda não resolvi se arrumar gavetas com papéis é uma atividade boa para férias ou para depois das férias.

Por enquanto estou deixando para depois o que posso fazer hoje... Tenho dedicado os dias aos meus filhos, passamos dias ótimos viajando, desenhos animados, Mr Bean, jogos no Game Cub, Parque da Xuxa, almoço de cheeseburguers, brincadeiras, estórias para dormir: cuidado e atenção.

O filme que assisti ontem se chama "Um Guerreiro SOlitário", ou "The Warrior" do diretor Anthony Minghella. Um estória de um despertar para a consciência e do caminho de um herói. Este tema tem voltado com insistência nas últimas semanas junto com alguns outros como sincronicidade, liberdade para as escolhas e a importância dos sentidos e do corpo em tudo isto.

No hotel em que estive vi como é importante estarmos abertos e presentes em tudo. A vida não se abre se estamos no passado, no futuro ou imersos em ciclos de masturbação mental. Repetimos apenas, nos perdemos e perdemos a frescura da vida que corre pelos nossos dedos para o chão.

São efeitos também do que ando lendo, o livro do Pedro, Dostoievski e Peter Brook.

A parte disto tudo ando tentando emagrecer e parar de fumar. Domingo em ato heróico esmigalhei o resto do maço de cigarro sob o pedido de minha filha. Ah... Peço forças para sustentar neste ato heróico!

Aliás, peço forças para me manter são, presente e consciente cada vez mais e sempre. Pelo menos peço, a capacidade de refletir, buscar e sustentar as minhas escolhas.

:) Uma boa semana para todos!

Aonde está o que você procura?

Um conto da Tradição Sufi


Um vizinho viu um dia Mulla Nasreddin procurando alguma coisa na grama.

- O que foi que você perdeu caro Mulla? - perguntou-lhe.
- Minha chave. - respondeu o Mullá.

Então, o vizinho se ajoelhou e começou a procurá-la também. Lá pelas tantas o sujeito perguntou:

- Em que parte do jardim você acha que perdeu a chave?
- Ah! Não foi no jardim. Perdi dentro de casa.
- Então por que você está procurando por aqui?
- Porque aqui tem mais luz!

Assim o ser humano age muitas vezes. O caminho mais fácil é preferido embora nem sempre seja o mais acertado e quase sempre nos compromete recursos valiosos.

Aonde está o que você procura?


Ou você não procura nada?

A prontidão é tudo


"... there's a special providence in the fall of a sparrow. If it be now, 'tis not to come; if it be not to come, it will be now; if it be not now, yet it will come: the readiness is all: since no man has aught of what he leaves, what is't to leave betimes?"


Este é um trecho da fala do príncipe da Dinamarca ao seu amigo Horácio na peça Hamlet de W. Shakespeare (ACT V - Scene II - A hall in the Castle).

Segue uma tradução livre da pessoa que vos escreve:

... existe uma providência especial na queda de um pardal. Se for agora, não será depois; se for para não ser depois, vai ser agora; se for para não ser agora, ainda será depois: a prontidão é tudo: já que homem algum possue o que deixa, porque não deixar logo?"

Ando silencioso diante de tudo que me passa e dos encontros nesta jornada. Tudo me atinge e mergulha em mim como uma pedra que cai no lago: as ondas se espalham em círculos perturbando a superfície e logo a pedra some indo ao fundo onde também encontra e perturba a matéria que repousava esquecida.

Na manhã de inverno do parque da cidade grande, o vento agita as folhagens, sinto o ar fresco sugado pelas narinas, vejo a luz do sol que ilumina e enternece o olhar dançando com as sombras no rítmo do vento. Vejo o lago, uma pedra no ar e um menino.

Sou a paisagem? Sou o lago? Sou a pedra? Sou o menino que lança a pedra? Ou sou apenas o homem que tudo assiste e contempla em silêncio lembrando do bardo inglês?



Parque do Ibirapuera
Foto de Tayon Stefan

Desejos

Caminhar pela rua depois de uma chuva de verão, ouvindo as cigarras cantando e aquela mistura de odores de calçada molhada, chuva que se foi e noite que chega.



Voltar no tempo para um verão e acordar no escuro quando todos ainda dormem. Abrir a janela e ficar olhando para o céu que vai clareando devagar até chegar a hora de irmos para a praia.



Ter febre de 40 graus e perder a consciência. Ver luzes e formas, sentir e ouvir sons, reviver aquela experiência fascinante que mesmo com muito esforço não consigo mais evocar.



Ver uma estrela cadente e fazer um pedido.



Um sonho de creme.



21 de Outubro de 2004

Júlia

Vou abrir a porta, ela vai me olhar com um sorriso e vir de braços abertos na minha direção! Ah! Sorriso e abraços bem largos para saciar toda minha saudade!

Beijinho e upa bem forte para me esquecer do mundo! Lembro aqui quando a vi pela primeira vez! Veio decidida e sorridente!

Sei lá porque mas acho que será sempre assim! Livre, alegre e decidida! Apaixonada e apaixonante. Atriz, cantora, médica e dona de cachorro... Vejam só!

Quando a paixão passar... (vai?) sei que vai ficar este amor que já é eterno! Amor que parece que tá nem ai mas escorrego e pronto. Tá logo do lado para me levantar.

Eu andava perdido e fui salvo. Juventude é teu nome. Renovação, força e luz para um longo caminho... Tudo bem!

- Doce de chocolate, sorvete de creme e coca-cola. Para que mamão?

Lindinho é o biquinho quando ela finge que vai chorar. Não chora. Cai na gargalhada logo depois porque sabe que é amor. Gargalhada gostosa que faz qualquer um sorrir.

Eu não sou de impôr nada não mas ponho o olho nela vejo logo uma cantora de blues em uma banda super descolada dos anos 20. Minha Janis Joplin tupiniquim.

A gente sabe que tudo passa. Ela não sabe ainda... Se soubesse não ia nem ligar! Finge que nem é com ela e parte para outra!

Outro dia subiu no galho mais alto da árvore e falou em tom professoral:

- Viu papai? Eu não caí...

Percebi que tá sempre me ensinando e iluminando. Me cabe apenas aprender fingindo que ensino alguma coisa. Vou tentando aproveitar cada segundo destes cinco anos em que esta luz brilha comigo.

Presente de Deus é assim. A gente não pede nem planeja. Ele vêm de mansinho olha para a cara da gente de diz... Tá aqui! Para você! Vai ser tua pedra fundamental!

- Obrigado!

Feliz aniversário Juju!

Good Luck

Hoje eu prestei atenção na letra de uma música gravada pela Vanessa da Matta e Ben Harper. A magia das músicas que fazem trilha sonora para os momentos de nossa vida:

Good Luck / Boa Sorte
Vanessa da Mata & Ben Harper

Composição: Vanessa da Mata e Ben Harper

É só isso
Não tem mais jeito
Acabou
Boa sorte
Não tenho o que dizer
São só palavras
E o que eu sinto
Não mudará

Tudo o que quer me dar
É demais
É pesado
Não há paz
Tudo o que quer de mim
Irreais
Expectativas
Desleais

That's it
There is no way
It over
Good luck
I have nothing left to say
It's only words
And what l feel
Won't change

Refrão:

Tudo o que quer me dar
Everything you want to give me
É demais
It too much
É pesado
It's heavy
Não há paz
There is no peace
Tudo o que quer de mim
All you want from me
Irreais
Isn´t real
Expectativas
Expectations
Desleais

Mesmo, se segure
Quero que se cure
Dessa pessoa
Que o aconselha
Há um desencontro
Veja por esse ponto
Há tantas pessoas especiais

Now even if you hold yourself
I want you to get cured
From this person
Who poisoned you
There is a disconnection
See through this point of view
There are so many special people in the world
So many special people in the world... in the world
All you want all you want

Repete refrão

Now were falling (falling), falling (falling) into the night (into the night),
Falling (falling), falling (falling) into the night (um bom encontro é de dois),
Now were falling (falling), falling (falling) into the night (into the night),
Falling (falling), falling (falling) into the night (into the night).

Infelizmente nem todas as pessoas compreendem que não busco encaixes para minha vida. Não creio que alguém possa preencher o que me falta, nem possa amenizar as dores de minhas limitações e da finitude de meu ser.

Porém ainda creio em pessoas que estejam em sintonia comigo, pessoas que saibam o quão raro é um bom encontro de dois. Eu já desperdicei muitos bons encontros sem saber disto... Mas talvez fosse preciso perder para poder aprender e dar valor.

Solo

Te desejo sorte para que teus problemas te façam mais forte. E se apresse assim, a solução dos teus dilemas.

Mas da sorte mesmo tu vais precisar no final da luta quando não houver nada mais para conquistar ou submeter. Nenhum inimigo a tua espreita e nem batalhas complicadas para te sagrares herói.

Desejo-te sorte, companheiro, do fundo do meu coração nesta hora tão inóspita, quando o relógio for tão inútil quanto o segredo dos sábios, os amigos ou a amada.

Neste dia então, não te valerá nenhuma das idéias que amealhaste com o tempo. E quando a noite chegar e tu buscares o alimento, também as especiarias dos quatro cantos do mundo não serão suficientes para teu paladar.

E neste silêncio completo nenhum lugar do universo, nenhuma visão e nem mesmo as melodias mais harmoniosas poderão te acalantar.

Mas sorte mesmo vais precisar se perceberes um grito louco como uma gargalhada que nesta pausa da tua vida inicia seu solo a te acompanhar.

1986

Seu Antônio

O barulho das xícaras se misturava com os pedidos dos clientes e com o ruído dos motores dos carros e ônibus que vinha da rua. Algumas poucas pessoas se sentavam para conversar ou ler um jornal, mas a maioria engolia o café apressado e seguia para os compromissos da manhã.

Nesta correria dos dias que se iniciavam eu gostava de me sentar com calma ali no balcão e tomar o café da manhã em silêncio antes de ir para o trabalho. Ouvir e observar: quase um ritual.

- Uma média, por favor!

- Um café duplo e um pão na chapa...

Lembro daquele dia em que olhava o vapor que subia da cafeteira de aço inoxidável sem pensar em nada. Aquela nuvem esbranquiçada aquecia o ambiente e subia para o teto. Um homem sentou ao meu lado.

- Uma média e um pão com manteiga, por favor!

O homem devia ter aproximadamente uns 40 anos, barba bem feita, cabelos alinhados, terno, gravata e uma pasta de couro. Colocou a pasta sobre o balcão com um pacotinho colorido. Sacou um jornal da pasta, tirou os óculos do bolso do paletó e começou a ler a primeira página.

- E o pãozinho?

Ele abaixou os óculos e levantou os olhos do jornal para o balconista meio surpreso interrogando-o com os olhos. A pergunta foi refeita:

- O senhor quer o pão torradinho ou só quentinho?

- Ah, só esquenta um pouco. Obrigado. - Voltou os olhos para o jornal.

O atendente passou o pedido para o homem da chapa, encheu um copo de café e foi até o canto do balcão aonde um rapaz com um uniforme olhava para um pedaço de papel em branco sobre a mesa com a cabeça abaixada e os dedos enfiados no cabelo.

Deixou o copo, mas o rapaz nem levantou a cabeça. Voltou com as mãos no queixo e parou na frente do meu vizinho de bancada. Olhou para mim com um sorriso entre os lábios apertados.

Sorri de volta, mordi mais um pedaço do pãozinho torradinho que me deram antes e tomei mais um gole de café.

- Doutor! Posso pedir um favor?

O homem levantou os olhos ainda que meio hipnotizado por alguma informação valiosa que estava lendo.

- Sim?

- O doutor podia deixar eu ver o classificado?

Magro e baixo, os olhos pequenos e brilhantes, os dedos das mãos curtos. O balconista olhava para o homem de terno com um sorriso camarada. O cliente olhou para os lados e depois novamente para ele, então fez um sinal com a mão apontando o jornal e concordando com o empréstimo.

- Obrigado doutor! Eu dobro direitinho depois.

Um sorriso compreensivo do meu vizinho.

- Sabe que é? Eu vou comprar uma gaiola de passarinho...

Novo olhar compreensivo e um polegar para cima em sinal de afirmação. Voltou os olhos para o jornal novamente.

- Pra meu caçula...

O “doutor” então levantou as sobrancelhas. Coçou a cabeça e perguntou contrariado:

- Ele gosta de passarinho?

- Quem não gosta né doutor? Mas nem foi ele que pediu. Eu que vou dar. Eu saio de casa e ele ainda está dormindo. Quando eu volto, ele já está dormindo. Só vejo o danado no domingo. Então quero dar uma lembrança pra ele. - E escancarou um sorriso largo. - Opa! Peraí que vou pegar o pão do doutor!

O meu colega de balcão acompanhou com os olhos os passos apressados até a chapa aonde outro sujeito mais jovem e alto preparava os sanduíches e pãezinhos. Ele deixou então o jornal de lado e se ajeitou na cadeira. Quando voltou com o pedido, o atendente retomou a história:

- Sabe doutor? Passarinho me lembra meu pai. Todo domingo ele me chamava “Toiiiinhoo! Vamos limpar a gaiola do canário!”. Eu ia todo contente!

Acabou de falar, abriu os classificados, olhou para os fregueses e como se tudo estivesse em ordem voltou para o jornal.

- Ah! Tá aqui...

Tirou um papel do bolso e fez umas anotações, dobrou o jornal com cuidado e colocou no mesmo lugar sobre a pasta.

- Obrigado mesmo doutor! Tá gostando?

O outro com as bochechas cheias de pão e café com leite balançou a cabeça afirmativamente. Então ele gritou para o sujeito na chapa.

- Valdir! Fiz as pazes com a velha!

- É mesmo seu Antônio? O senhor brigou com ela?

- Te contei não? Xiiiii rapaz! A gente se melindrou semana passada e a coisa ficou preta lá em casa. A mulher não quis nem mais chegar pra um agrado. - Falou isto olhando para o chão e fazendo carinha de triste.

Valdir me olhou rindo e falou:

- Mas e ai seu Antônio? O que o senhor fez?

- Ontem sai daqui e passei ali na banca de flor e comprei um botão de rosa clarinha...

- E o que ela achou? Já deu pra ela?

- Dei hoje de manhã! A gente saiu pro trabalho e levei a rosa escondida. Tava mais bonita de ver! Ai fomos andando para o ponto e no meio do caminho eu parei. Ela olhou pra mim e já ia reclamar mas eu fui antes e pedi desculpa. Dei a flor pra ela e não falei mais nada.

Olhei em volta, a maioria dos clientes nem prestava atenção. Apenas eu, meu vizinho e o estudante. Ele, com a caneta largada sobre o papel, sorvia o café segurando o copo com as duas mãos enquanto ouvia a conversa.

– Mas então fizeram as pazes? – O homem ao meu lado, já estava procurando alguma coisa nos classificados quando levantou a cabeça e fez a pergunta.

- Doutor! Essa mulher é dura! Pegou a florrr rápido e pulou pra dentro do ônibus. Mas eu vou lhe contar uma coisa. Eu bem vi ela olhando a flor e sorrindo.

Olhei o relógio e vi que precisava ir. Levantei-me e despedi dos amigos. O dia estava frio e parecia que ia chover. No caminho para o escritório, quase fui derrubado quando aquele rapaz me cortou apressado entrando na loja de flores.

Seu Antônio ganhava a vida servindo xícaras de atenção, carinho e esperança. Mas sempre que podia ele também nos trazia um café, um suco, pães torradinhos ou não.

11 de Outubro de 2004

PS: Existem 2000 pessoas no mundo, o resto são coadjuvantes.
;)

Porvir


Começar, levantar, olhar, respirar, transcender, sonhar, correr e voar.

Súbito som me faz pular e virar.

- Olá! Entre!
- Estávamos te esperando.

Chego perto e sinto o cheiro do café saindo pela porta aberta. Escolho sentar ali, no meio do coração onde fico largado ouvindo o mistério e saboreando a vida, todas as vidas, o amor, todos os amores, minha forma de ser e todas as formas de sermos.

- O que é isto?
- Prove... Gostou?

O olhar do outro é sempre uma janela para mim. Assim também sou a janela para quem me olha. Quero ser sempre assim: janela ampla, silenciosa e aberta para o olhar. Ser holograma e refletir o todo no pouco que sou.

- Mamãe que é aquilo?
- Você amor!

As palavras são o tempêro. Nem muito, nem pouco, só a justa medida do gosto. Ali na mesa devem estar os quatro elementos e todos os convidados. Toda fome da vida passada e toda dor do futuro ficam de fora tomando conta da casa.

- Valha-me Deus! São elas ali na frente fazendo barulho?
- Virgem... é sim! Tão rosnando, cheirando e procurando que nem o cão do demo...

A noite cai e na hora da lua elas encontram e comem ali mesmo na frente das crianças.

Silêncio profundo na noite prateada.

O dia chega com as brumas da manhã que sobem aos céus e viram luz do sol.

- Aonde?
- Ali debaixo da árvore.

Deitamos de frente pro rio e do lado ainda tinha o morro bem verdinho e céu do azul mais lindo. Com teu carinho fecho os olhos pra acontecer de novo... criança cantando e brincando na rua, cheiro de pipoca doce e primeiro beijo.

Sorriso, abraço, beijo, carinho, saudades, alegria, amor, paz... fim.

Abril de 2005

Nota de leitura: A Mente e o Significado da Vida

Ontem começei a ler o livro do Pedro Paulo Monteiro:



Apesar dos poucos encontros que tive com o Pedro, ele é uma das pessoas que mais estimo e que espero reencontrar como amigo, terapeuta e mestre.

Ainda estou nas primeiras páginas mas reconheci logo seu estilo de compartilhar e ensinar sem deixar de nos emocionar e de chegar ao essencial.

Eu queria ler o livro a algum tempo mas estava absorto em alguns outros estudos. Sou leitor assim, vou lendo devagar mas sempre e dando meus sinais de vida.

:)

Abraços e beijos para todos! Uma semana plena de aprendizados, sentimentos e de força! Para que não percamos nossas virtudes e não nos desviemos da vida.

Nota de aprendizado: Sabores e Paladar

O sabor das coisas do mundo e o sabor das pessoas não está nas coisas ou nas pessoas mas no momento em que nossos sentidos encontram as coisas do mundo e as pessoas.

Fora dos encontros tudo não passa de um amontoado de idéias, memórias e sonhos.

Porém, existe o medo de que o encontro seja doce demais, salgado demais, ácido demais, amargo demais...



"As papilas gustativas são estruturas compostas por células sensoriais que são capazes de discernir entre quatro sabores primários, o amargo, o ácido, o salgado e o doce. Cada substância excita um tipo de célula sensorial, que é o que determina a sua percepção de sabor. Quando determinada substância não provoca reações sensitivas nos órgãos do paladar, diz-se que é insípida."

Fonte: Wikipédia - Artigo: Paladar

Última notícia...

Botafogo derrota Grêmio e assume liderança do Brasileiro



Nunca curti muito futebol. É verdade, sei os motivos e quando vejo meu filho contente com o Vascão dele fico feliz que não herdou a sina do pai. A garotada só me colocava no campo se não tivesse mais ningúem e alguns preferiam que ficasse faltando mesmo.

A gente vai crescendo e desiste. Então os amigos também crescem e insistem. Amigos mais maduros, nós mesmos mais maduros e começamos então a dar umas espiadas, arriscar umas entradas nos campos etc.

Algumas semanas atrás estava num hotel fazenda com meus filhos e pais. Lá pelas tantas meu filho foi assistir um jogo ali... Depois de um tempo fui atrás dele e vi o jogo mas não o vi. Preocupado fui até lá para perguntar se alguém o vira.

Vou chegando perto, chegando perto e vejo o cara correndo no meio do campo. Ao seu redor homens de 20 a 50 anos jogando uma peladinha gostosoa e meu garoto ali, do alto de seus 8 anos sem fazer feio. Definitivamente ele vai me ultrapassar!

E digo isto com os olhos cheios de lágrimas. Orgulho! Esperança! Feliz por ele!

Eu não conseguia jogar bola com os da minha idade. Ele é convidado pelos mais velhos. Tudo bem, tinham os coroas como eu, fumantes, gordinhos, pernetas... Mas ele não sabe disto ainda e só via o jogo de gente grande... nem por isto se intimidou.

Nunca gostei de futebol. Adotei o time da maioria para não me encherem o saco... Um dia comecei a escolher meus ídolos, meus mestres e "pais", descobri então que Vinicius de Moraes era Botafoguense. Tava resolvido, encontrei meu time.

O Fogão ganhou, perdeu, ficou mal e muito bem mas eu nunca mais quis ter outro time. Ainda não sigo todos os lances dos campeonatos mas vibro e curto ver meu time nas cabeças.

Tentei fazer meu filho ser Botafoguense mas com os dois avôs Vascaínos e a distância ele escolheu o Vascão. Tudo bem, eu o admiro mais ainda por isto. É claro que ele ficou sem graça de me contar, mas contou e eu lhe disse que era muito bom.

Levei muito tempo para aprender a gostar de futebol. Começei a gostar com um poeta e sigo aprendendo com meu filho. Isto, nem sei se tem a ver com futebol. Tem a ver com amor, com amizade, com infância, com alegria...

Fogão nas cabeças! Fico feliz aqui de longe.

Da série: Músicas Preferidas: Little Girl Blue



Little Girl Blue

Sit there, hmm, count your fingers.
What else, what else is there to do ?
Oh and I know how you feel,
I know you feel that you’re through.
Oh wah wah ah sit there, hmm, count,
Ah, count your little fingers,
My unhappy oh little girl, little girl blue, yeah.

Oh sit there, oh count those raindrops
Oh, feel ’em falling down, oh honey all around you.
Honey don’t you know it’s time,
I feel it’s time,
Somebody told you ‘cause you got to know
That all you ever gonna have to count on
Or gonna wanna lean on
It’s gonna feel just like those raindrops do
When they’re falling down, honey, all around you.
Oh, I know you’re unhappy.

Oh sit there, ah go on, go on
And count your fingers.
I don’t know what else, what else
Honey have you got to do.
And I know how you feel,
And I know you ain’t got no reason to go on
And I know you feel that you must be through.
Oh honey, go on and sit right back down,
I want you to count, oh count your fingers,
Ah my unhappy, my unlucky
And my little, oh, girl blue.
I know you’re unhappy,
Ooh ah, honey I know,
Baby I know just how you feel.

Ode



Vou te fazer uma Ode
Não por te amar ou te querer
(isto tem seus proveitos)
Mas por te preferir e te admirar

A Paixão não escolhe.
Se Entrega e pede apenas
Um objeto e uma loucura.
Já o Amor, este sim

O Amor escolhe e aceita,
cresce e amadurece com o tempo.
O Amor supera as dificuldades
Pois compreende e eleva

A ti, por ti, falarei
Dos momento de alegria
Quando te vejo e falo
Das coisas esquecidas que penso

Vou te cantar mil versos
Que completarão mil olhares
E toda a vontade de viver contigo
Que desaprendi. O lutar.

Te deixo de presente somente
A beleza de todos os vales
Acariciados nos seus pelos florais
Pela brisa vespertina

E, dado uma vez
Nunca me peças perdão
Ou rejeite a oferta
Que, de coração, te faço

Pois o destino, se completa aqui
Mas sua trama nasce além.
E o que se escreve não se esquece jamais
Mesmo que se queime ou se destrua tudo

Pois os versos já se elevaram
Muito além da vida dos homens
Como o destino existe também
Muito adiante dos nossos sonhos.

Nunca faça pois, sequer um gesto
De arrependimento ou renúncia
Se entregue não aos admiradores
Mas intensamente ao teu Amor.

Que não é ninguém ou nada
Além do que reside em ti
Se entregue a beleza dos momentos
Em que outros procuram horror.

Nada do que existe para nós
Tem limites neste mundo
Tudo alcança os céus
Tudo se guarda dos imundos

E se o tempo e a distância
Corroem belos sentimentos,
E se o desejo e a saudade
Apressam novos horizontes,

Somente o Amor e a vida
Restauram e mantém dignos
Os sentimentos dos seres
Que sabem viver bonito.

06/11/87

¿Quien muere?




Muere lentamente quien se transforma
en esclavo del hábito,
repitiendo todos los días el mismo trayecto,
quien no cambia de marca,
no se arriesga a vestir un color nuevo
y no le habla a quien no conoce.

Muere lentamente quien hace
de la televisión su gurú.

Muere lentamente quien evita una pasión,
quien prefiere el negro sobre el blanco
y los puntos sobre las "ies"
a un remolino de emociones,
justamente las que rescatan el brillo de los ojos,
las sonrisas de los bostezos,
los corazones de los tropiezos y sentimientos malos.

Muere lentamente quien no voltea la mesa
cuando está infeliz en el trabajo,
quien no arriesga lo cierto por lo incierto
para ir detrás de un sueño,
quien no se permite por lo menos una vez
en la vida, huir de los consejos sensatos.

Muere lentamente quien no viaja,
quien no lee, quien no oye música,
quien no encuentra gracia en si mismo.

Muere lentamente quien destruye su amor propio,
quien no se deja ayudar.

Muere lentamente quien pasa los días quejándose
de su mala suerte o de la lluvia incesante.

Muere lentamente, quien abandona un proyecto
antes de iniciarlo,
no preguntando de un asunto que desconoce
o no respondiendo cuando le indagan
de algo que sabe.

Evitemos la muerte en suaves cuotas,
recordando siempre que estar vivo exige
un esfuerzo mucho mayor
que el simple hecho de respirar.

Solamente la ardiente paciencia
hará que conquistemos una espléndida felicidad.

Pablo Neruda

Demais

Ando romântico demais, acreditando demais, me dando demais e sonhando demais. Cansei da pasmaceira, do descuido e do desrespeito.

Cansei de ser só esperando... O que não vem porque espero demais.

Vou ser mais romântico, acreditar mais, me dar mais e sonhar mais. Deixo o desrespeito, o descuido, os medos e a pasmaceira ali... Pousado num canto da calçada.

Hoje, farei silêncio na sala escura com um trago amargo, o último cigarro e uma melodia de Chopin. Assim vou dormir e deixar tudo que é demais.

Dormir, acordar e viver mais.

Único

Tocaram seus lábios,
Tocaram-se os corpos.

Pela primeira vez
Em muitos anos.

Suavemente,
Tremendo.

Um beijo tremido
Calado
Sofrido
Mas ainda sem dor

Um beijo tremido
Alado
Querido
Repleto de amor

Um beijo tremido
Esperado
Tolido
Com todo pudor

- Beijo tremido é que é beijo!

O resto? São apenas desejos...

22/05/1985
Fernando

Uma ótima semana!

É não pode Ser.

Ser simplesmente.
Nada sobrando.
Nenhum sonho impossível.

Todo possível está posto.

Crer.
Não em possibilidades!

Mas na realidade...

- O que pode ser, não é.

Junho de 1985

Reencontro

Hoje tive uma experiência que me fez recordar muitas coisas. Vou escrever tudo buscando dar um sentido talvez.

Sou católico, ou era... Não sei mais. Fiz esta opção já adulto. Até minha conversão simpatizava com várias crenças e muitas vezes me considerei ateu. Vivia a vida sem sentido. Esta conversão se deu aos poucos nas missas dominicais em que eu ia acompanhando minha namorada que se tornou depois minha esposa.



Esta conversão se deu por uma nova visão de Jesus e da palavra de Deus com que tomei contato ao longo de vários anos através dos padres da congregação dos Sagrados Corações. Em especial através das homilias do saudoso padre João. Para mim ficou dele a imagem destes poucos que por todo o ser transbordam vida, amor, a simplicidade de quem vive no transcendente e nos mistérios.

Cativado, desencavei uma velha catequese, reli mas as palavras agora tinham a luz do Padre João. Me entreguei, fiz a preparação na catequese para adultos, recebi o Sacramento Eucarístico e depois o Sacramento do Matrimônio. Foi um casamento muito bonito na comunidade celebrado pelo também querido Padre Lorenzo, como eu acho que deveriam ser todos os casamentos. Na época eu tinha quase 30 anos.

Eu já estava engajado na pastoral da juventude e passei a participar das liturgias, encontros e atividades da paróquia. Conheci então os caminhos da espiritualidade e me abri para uma outra experiência de fé, para a experiência das orações, meditações e contemplações e se deu aos poucos uma mudança em meu ser. Ao mesmo tempo procurava conhecer melhor as escrituras, as liturgias, o catecismo e a vida dos santos.

Logo me dei conta de que a Igreja não era e nunca foi tão una e quanto mais eu me aproximava de Jesus mais estranhas e incoerentes me pareciam algumas práticas de alguns fieis e sacerdotes assim como algumas doutrinas e orientações.

Procurei nas confissões com o também querido Padre Vicente e percebi minha arrogância e orgulho. Rezei e orei, busquei ajuda para minhas inquietações nas confissões e nos aconselhamentos espirituais. Procurei deixar de lado as idéias de justiça social e compreender o mistério da Igreja humana e divina mas que era sobretudo parte do Corpo Místico. Descobri que a fé não existe sem a dúvida como uma escolha livre.


Não foi fácil porque minha experiência na comunidade era outra. Via egoísmo, disputas de poder e controle, falta de fé, falta de amor e de comunhão, falta de compromisso, tolerância com os pobres de espírito e intolerãncia com os pobres de recursos, com os doentes e com os fracos.

Ah! Haviam tantas perturbações... E as respostas eram vagas e as minhas perguntas tão incovenientes! Algumas vezes descobri que aqueles a quem eu perguntava se deparavam com as mesmas questões. Isto pelo menos me deu ânimo. O pior eram os cegos e mediocres!

Não perdi a fé nos sacramentos, não perdi a fé nas escrituras, não perdi a fé na Santíssima Trindade e nem perdi a fé nas dezenas de pessoas que conheci que lutavam diariamente renovando sua fé apesar do humano e do pecador desta Igreja que os acolhia e muitas vezes os oprimia.

Mesmo assim segui e me deparei com minhas perturbações. Nada do que está no mundo nos é estranho. Assim não foi comigo. E comecei então a questionar minha fé e meu compromisso com a Verdade, com o seguimento do Mestre.

Acho que neste ponto foi quando me senti fraco e longe do Cristo. Quanto mais eu orava e via Ele mais eu percebia como estava longe e como havia uma grande escuridão na minha alma. Busquei ajuda mas sem grande esforço.

A família, o trabalho e tudo ao meu redor me pressionavam em outra direção oposta ao seguimento da Palavra. Senti medo e me vi só. Então me afastei aos poucos, sei que perdi o alimento e fui enredado no círculo vicioso dos pecados até me perder completamente.

Deixei meus valores de lado pelos valores do mundo. Me seduzi pelas ilusões do mundo, pelo poder, pelas falsas seguranças, pelo pensamento cartesiano e pelos valores racionais e objetivos. Me separei do que não se vê com os olhos, dopei meus sentidos, mergulhei em erros e ilusões, magoei pessoas queridas e fui me perdendo.



Depois de alguns anos, estava divorciado, perdido, confuso e inquieto. Retomei então aos poucos minha busca. A única luz e sentido na minha vida eram meus filhos. Além deles nada mais tinha sentido e nada me alimentava.

Tudo ao meu redor contribuia para manter minha inércia mas apesar de tudo pude reencontrar meu caminho. Os erros e os pecados ainda estavam presentes mas eu fui pouco a pouco buscando sair daquela escuridão.

Retomei minha jornada interrompida com as incertezas e dificuldades que lhe são próprias sem ver luz pela frente ou atrás mas guiado pelos meus valores e por uma fé inabalável de que aquele era o meu caminho, de que eu precisva fazer isto pelo menos pelos meus filhos e de que talvez eu pudesse ter ao final, o Perdão e a Misericórdia.

Foram valiosas as minhas experiências de fé anteriores muito mais do que todo o conhecimento obtido até então. Os livros na estante pois eu sabia que na escuridão não me serviam de nada. Também foram valiosas algumas pessoas que se aproximaram.

Uma vez eu falei em uma palestra para os jovens sobre Deus e de como Seus planos estão muito além de nosso parco entendimento. Ah! Tantas vezes depois me recordei desta palestra! Eu achava que sabia alguma coisa...

Ainda na escuridão, só e lutando contra minhas fraquezas e as ilusões, vejo hoje que nunca fui abandonado. Sei hoje que esta como tantas outras são experiências que não se transmitem com palavras nem chegam por nossa vontade mas por uma entrega e um esforço o que é paradoxal.

Chamo de Deus, outros falam do universo, do Tao e tantos outros nomes mas vejo hoje que existe algo além do que vemos e percebemos com os sentidos limitados e embotados que temos hoje. Este que é meu Deus me abre novos caminhos todo dia e me estimula mesmo que eu me perca. Ele me desviou de tantos perigos de que só tenho conta hoje e provavelmente muitos outros de que nem tenho conta hoje.

Finalmente começo a ver um pouco de luz. Sinto novamente o Calor e o Amor agindo em minha vida.



Chego ao inicio do relato desta experiência de hoje quando tive vontade de me confessar a um bom padre, de assistir a uma missa e de comungar novamente. Não por qualquer dos meus pecados que não são poucos mas por um desejo de comungar no Corpo e no Sangue. Porém me dei conta de que estou impedido justamente por minha fé, pelos meus princípios e pelo que sou.

Na ilusão do raciocinio penso em contornar e resolver. Porém logo sou chamado para a verdade e percebo que não poderia negar minha escolha pelo matrimônio alegando inconsciência ou qualquer outro motivo. Tão pouco poderia continuar casado sendo quem sou sem dar um testemunho de uma vida mediocre e distante da vida Plena que desejo e creio ser possível.

Então, chorei como um menino... Um triste lamento que me veio do fundo da alma. Passado o choro senti um grande abraço e parece que vi todo o sorriso de um Irmão que é meu Mestre e meu Deus. Era um sorriso tão bonito que me fez sorrir...



Percebi novamente que está tudo certo.