Porvir
Começar, levantar, olhar, respirar, transcender, sonhar, correr e voar.
Súbito som me faz pular e virar.
- Olá! Entre!
- Estávamos te esperando.
Chego perto e sinto o cheiro do café saindo pela porta aberta. Escolho sentar ali, no meio do coração onde fico largado ouvindo o mistério e saboreando a vida, todas as vidas, o amor, todos os amores, minha forma de ser e todas as formas de sermos.
- O que é isto?
- Prove... Gostou?
O olhar do outro é sempre uma janela para mim. Assim também sou a janela para quem me olha. Quero ser sempre assim: janela ampla, silenciosa e aberta para o olhar. Ser holograma e refletir o todo no pouco que sou.
- Mamãe que é aquilo?
- Você amor!
As palavras são o tempêro. Nem muito, nem pouco, só a justa medida do gosto. Ali na mesa devem estar os quatro elementos e todos os convidados. Toda fome da vida passada e toda dor do futuro ficam de fora tomando conta da casa.
- Valha-me Deus! São elas ali na frente fazendo barulho?
- Virgem... é sim! Tão rosnando, cheirando e procurando que nem o cão do demo...
A noite cai e na hora da lua elas encontram e comem ali mesmo na frente das crianças.
Silêncio profundo na noite prateada.
O dia chega com as brumas da manhã que sobem aos céus e viram luz do sol.
- Aonde?
- Ali debaixo da árvore.
Deitamos de frente pro rio e do lado ainda tinha o morro bem verdinho e céu do azul mais lindo. Com teu carinho fecho os olhos pra acontecer de novo... criança cantando e brincando na rua, cheiro de pipoca doce e primeiro beijo.
Sorriso, abraço, beijo, carinho, saudades, alegria, amor, paz... fim.
Abril de 2005