Retornando das Férias

Passei uns dias viajando e aterrisei novamente em meu apartamento, nesta cidade imensa, com o transito louco etc. Mas ainda estou ZEN... ainda consegui assistir a moça no seu truck ultrapassando uma longa fila de carros na Nhambiquaras pela contra-mão. Ela deve ser mais importante do que todos nós que esperávamos com paciência. Até quando ficarei ZEN? Não sei.

Ontem liguei o computador e ato automático meu corpo digitou senhas, teclas, cliques e os olhos verificaram os emails, recados etc. Eu só pude processar eles bem mais tarde, depois de assistir um filme muito interessante que comento a seguir, respondi alguns mais urgentes e fui me deitar com o dia clareando.

Dormir tarde sem preocupação com o day-after é um benefício das férias. Sem preço. Estou aproveitando todos eles. Sei que tenho andado meio ausente e relapso com o computador, celular etc. Ainda não resolvi se arrumar gavetas com papéis é uma atividade boa para férias ou para depois das férias.

Por enquanto estou deixando para depois o que posso fazer hoje... Tenho dedicado os dias aos meus filhos, passamos dias ótimos viajando, desenhos animados, Mr Bean, jogos no Game Cub, Parque da Xuxa, almoço de cheeseburguers, brincadeiras, estórias para dormir: cuidado e atenção.

O filme que assisti ontem se chama "Um Guerreiro SOlitário", ou "The Warrior" do diretor Anthony Minghella. Um estória de um despertar para a consciência e do caminho de um herói. Este tema tem voltado com insistência nas últimas semanas junto com alguns outros como sincronicidade, liberdade para as escolhas e a importância dos sentidos e do corpo em tudo isto.

No hotel em que estive vi como é importante estarmos abertos e presentes em tudo. A vida não se abre se estamos no passado, no futuro ou imersos em ciclos de masturbação mental. Repetimos apenas, nos perdemos e perdemos a frescura da vida que corre pelos nossos dedos para o chão.

São efeitos também do que ando lendo, o livro do Pedro, Dostoievski e Peter Brook.

A parte disto tudo ando tentando emagrecer e parar de fumar. Domingo em ato heróico esmigalhei o resto do maço de cigarro sob o pedido de minha filha. Ah... Peço forças para sustentar neste ato heróico!

Aliás, peço forças para me manter são, presente e consciente cada vez mais e sempre. Pelo menos peço, a capacidade de refletir, buscar e sustentar as minhas escolhas.

:) Uma boa semana para todos!

Aonde está o que você procura?

Um conto da Tradição Sufi


Um vizinho viu um dia Mulla Nasreddin procurando alguma coisa na grama.

- O que foi que você perdeu caro Mulla? - perguntou-lhe.
- Minha chave. - respondeu o Mullá.

Então, o vizinho se ajoelhou e começou a procurá-la também. Lá pelas tantas o sujeito perguntou:

- Em que parte do jardim você acha que perdeu a chave?
- Ah! Não foi no jardim. Perdi dentro de casa.
- Então por que você está procurando por aqui?
- Porque aqui tem mais luz!

Assim o ser humano age muitas vezes. O caminho mais fácil é preferido embora nem sempre seja o mais acertado e quase sempre nos compromete recursos valiosos.

Aonde está o que você procura?


Ou você não procura nada?

A prontidão é tudo


"... there's a special providence in the fall of a sparrow. If it be now, 'tis not to come; if it be not to come, it will be now; if it be not now, yet it will come: the readiness is all: since no man has aught of what he leaves, what is't to leave betimes?"


Este é um trecho da fala do príncipe da Dinamarca ao seu amigo Horácio na peça Hamlet de W. Shakespeare (ACT V - Scene II - A hall in the Castle).

Segue uma tradução livre da pessoa que vos escreve:

... existe uma providência especial na queda de um pardal. Se for agora, não será depois; se for para não ser depois, vai ser agora; se for para não ser agora, ainda será depois: a prontidão é tudo: já que homem algum possue o que deixa, porque não deixar logo?"

Ando silencioso diante de tudo que me passa e dos encontros nesta jornada. Tudo me atinge e mergulha em mim como uma pedra que cai no lago: as ondas se espalham em círculos perturbando a superfície e logo a pedra some indo ao fundo onde também encontra e perturba a matéria que repousava esquecida.

Na manhã de inverno do parque da cidade grande, o vento agita as folhagens, sinto o ar fresco sugado pelas narinas, vejo a luz do sol que ilumina e enternece o olhar dançando com as sombras no rítmo do vento. Vejo o lago, uma pedra no ar e um menino.

Sou a paisagem? Sou o lago? Sou a pedra? Sou o menino que lança a pedra? Ou sou apenas o homem que tudo assiste e contempla em silêncio lembrando do bardo inglês?



Parque do Ibirapuera
Foto de Tayon Stefan

Desejos

Caminhar pela rua depois de uma chuva de verão, ouvindo as cigarras cantando e aquela mistura de odores de calçada molhada, chuva que se foi e noite que chega.



Voltar no tempo para um verão e acordar no escuro quando todos ainda dormem. Abrir a janela e ficar olhando para o céu que vai clareando devagar até chegar a hora de irmos para a praia.



Ter febre de 40 graus e perder a consciência. Ver luzes e formas, sentir e ouvir sons, reviver aquela experiência fascinante que mesmo com muito esforço não consigo mais evocar.



Ver uma estrela cadente e fazer um pedido.



Um sonho de creme.



21 de Outubro de 2004