semáforo

céu acinzentado donde escorre esta chuva
lágrimas que não derramo

vento frio nas folhas e galhos
mudanças

lixo, buzinas, motores, luzes e pessoas
cansado

criança de short e camisa passa só ao meu lado
o chinelo mergulha na poça
o pezinho sacode a água e segue

tem uma lama colada na sua perna

molhado de pé o vejo ir
vento frio na minha blusa molhada
coração aperta

vida, então és isto?

quanto mais vejo
menos compreendo

desaprendi o pensar
sou agora sentidos
memórias e sentimentos

tudo transborda
tudo está contido
tudo está longe

pessoas muito longe

de fato, não sou sabio
quisera ser louco agora

dormir por vários dias
sonho com lençois brancos
cama de hospital

apagar tudo
esquecer tudo
descansar de tudo

para onde?
porque?

tudo que sei
não me serve mais

olhos molhados
os lábios tremem

aperto e seguro
deixo a dor ali

o verde se ilumina
abaixo a cabeça

sigo