Dica de Teatro: Adeotas

Elenco: Gero Camilo, Marat Descartes e Caco Ciocler
Temporada: de 14/09 a 25/11 de 2007.



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Os atores Gero Camilo e Marat Descartes interpretam a trajetória de Levi e Elias, dois amigos de infância, que se reencontram em fragmentos de memória na pequena cidade de Coti das Fuças.

“… um dia desses na vida, depois de bastante ter ido, regressei aldeota de amigos. Tinha quase outro olho. Era tudo mesmice de boa gente. A casa, a rua, passeios de adormecer de sol. Até o tempero era o mesmo, banhando a boca de desejo de comida de mãe…”
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Lembrete


Só irrita e incomoda o que de algum modo nos diz respeito e reconhecemos como verdadeiro.





Presentes de Casamento

Faz um pouco mais de 2 anos que encontrei meu amigo apaixonado e feliz. Ele me contou da mulher que reencontrou e que entrou em sua vida com plenitude e a transformou. Eu achei muito bonito tudo que ouvi porque também fez eco com tudo que eu vivia no momento e registrei em algumas linhas que estão abaixo:

Descarrilamento

Ele sempre foi uma pessoa organizada. Tinha seu trabalho, sua casa e seus objetivos pessoais e profissionais.

Quando a conheceu perdeu a linha. Saiu do trilho. Todas as suas convicções ruiram de uma hora para a outra.

Ela se meteu na sua casa, na sua vida pessoal e mesmo na vida profissional. Ele se transformava diante de todos.

Um dia, confessou um tanto assustado que mesmo diante de todas as mudanças que ela trazia para sua vida, ele a amava e estava feliz.


Setembro de 2005

Hoje eles se casam e deixo neste blog um presente para os noivos: alguns versos que gosto. Dois estilos diferentes, versos de poetisa e versos de poeta. Versos que tratam de plenitude, compromisso, escolha e entrega. Versos que me lembram como somos limitados, finitos e como temos estes anseios por transcendermos estas condições.

Para vocês, Gustavo e Patrícia com meus votos de felicidades do amigo querido:

Casamento

Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.

O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva.

Adélia Prado

Soneto da fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa (me) dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes

Até logo...

Companheiros

Como o pão, com a manteiga e o café, companheiros do dia.
Como o vinho ou uísque, companheiros da noite.
Estes nunca me pediram para deixar de ser eu mesmo.

Quando eu ligo, não me perguntam porque eu estava sumido.
Gostam de ouvir as coisas loucas que eu tenho para falar.
Sabem dar o alimento de que vivem os sonhadores.

Nunca me trataram com condescendência.
Se nos perdemos no silêncio, alguém sempre pergunta:
- Que porra é esta que está acontecendo?

E começamos longo papo que não tem hora para acabar.
Lá pelas tantas, eu me esqueço e como, bebo e pronto.
Entram, tornam a ser parte do que sou e a vida segue.

Nos encontramos de novo, de dia ou de noite.
Ficamos felizes e fazemos aonde for a nossa casa.
Conversas que nunca terminam: são interrompidas.

Encontrar alguém assim:
Meio pão com manteiga, meio café, vinho e uísque.

Sigo a busca, sem pressa:
Só tenho precisão.

Se não encontro, procuro mais:
Não importa onde, nem como e nem quando.

Setembro de 2005

A um ausente

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu,

enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

Carlos Drummond de Andrade

Boa Sorte

Para todos que precisam de sorte
Mesmo que tenham se preparado
Ainda que tenham cuidado de tudo
Apesar de não haver nenhum risco

Boa sorte vos desejo

Porque da boa sorte ninguém prescinde
Ainda que não confie na sorte
Mesmo que não acredite ter sorte
Apesar de não ver necessidade

Todos precisamos de sorte

Principalmente os que se lançam
Nas empreitadas difíceis
Nos caminhos desconhecidos
Ou sem medo, sem cuidado...

Boa sorte vos desejo de coração

Este é meu voto hoje e sempre
Para que a gente vença os obstáculos
Possamos assim superar nossos limites
Até que possamos um dia, talvez...

Compreender

Meu coração vos deseja
Saúde, Felicidade
Paz, Amor

E muito boa sorte!



Paixão

O que muitas vezes chamamos de paixão são gostos, desejos, vaidades, obsessões e espasmos do ego. Estas paixões podem ser prazerosas mas cegam, perturbam, tiram o sono... Queimam e se apagam: paixão não dura.

Acontece que para mim existe outra forma de paixão que dura... Uma paixão que se revela nas obras e nos atos feitos com cuidado, dedicação, entrega e até mesmo um certo martírio. Não suprime a inteligência e a reflexão mas destas exige o máximo: clareza, intensidade, exclusividade e compromisso.

Este estado do ser pede o máximo de tudo e de todos, transcende a mediocridade e justo por isto o que se faz com paixão incomoda muito mas resiste ao tempo e as dificuldades e se reflete com uma qualidade que qualquer um reconhece, todos almejam mas poucos realmente conquistam. Diria até que raros conquistam.

E são raros justo porque não existe esta conquista apaixonada sem sacrifício, sem perder o controle, sem abrir mão do poder, sem a entrega de quem compreende a precariedade da vida, sem aceitar a dor que toda transformação e criação verdadeira exigem das coisas e das pessoas envolvidas. Escolher a paixão é parte do exercício da liberdade humana. E até por isto é difícil.

Os grandes mestres falam disto mas nem sempre ouvimos e raramente compreendemos que isto não se restringe a genialidade. Cada ser escolhe ou não, buscar a vida com paixão.

Eros e Psique de Fernando Pessoa

...E assim vêdes, meu Irmão, que as verdades
que vos foram dadas no Grau de Neófito, e
aquelas que vos foram dadas no Grau de Adepto
Menor, são, ainda que opostas, a mesma verdade.
(Do Ritual Do Grau De Mestre Do Átrio
Na Ordem Templária De Portugal)

"La Belle au Bois Dormant"
Paul Gustave Doré

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.