Dando seguimento ao tema da Cigarra e da Formiga...
Eu queria ser Cigarra. Houve uma época em que tinha mil planos e sonhos: teatro, capoeira, poesia, contos, literatura, psicologia e filosofia, viagens, lutar pelas injustiças e por um mundo melhor com menos fome, miséria e lutas pelo poder.
A Engenharia era o território dos resultados obtidos com planejamento e esforço, campo de estudos teóricos ou empíricos embebidos da visão determinística e das buscas das relações de causa e efeito sem valorizar o ser humano.
Via que mesmo apesar dos esforços de muitos as tecnologias e as técnicas serviam ao capital, ao poder, a destruição do ambiente e ao embotamento do ser humano. Assim, apesar de muitos cientistas e técnicos lutarem contra isto, no final os esforços eram em vão. Uma mudança era necessária no ser humano, uma mudança humanística e holística. Ali deveriam estar os esforços.
Então, lá fora o mundo parecia um campo de possibilidades ilimitadas e muito mais interessantes enquanto eu resolvendo problemas de cálculo e física buscava boas notas e aprovações nas disciplinas. Investindo na promessa de um futuro melhor com independência financeira, sucesso profissional e segurança. Uma promessa vaga demais diante dos convites do presente. Um investimento que parecia perpetuar tudo que eu achava errado.
Diante disto eu simplesmente não resisti e me joguei em diversas experiências assim como saí na busca ansiosa de um auto-conhecimento e de um conhecimento do mundo. Foi um período muito rico de minha vida e uma das épocas que me traz saudades só que vivi e pelas pessoas que conheci mas pela disposição interior em viver o novo. De imediato, ganhei o apelido de "Louco".
Com o tempo, fui me deparando com os limites. A vida nos extremos experimentando de tudo não era apoiada pela família, professores e nem mesmo pelos meus colegas que seguiam com seriedade a busca pelo sucesso profissional. Assim, me senti forçado a fazer escolhas, assumir alguns compromissos e passei a arcar com minhas escolhas mesmo sem desejar muitas delas.
Então ser Cigarra me pareceu apenas um sonho, distante e impossível. Segui então, resignado, o caminho da Formiga. Sobrevivi muitos invernos mas não posso dizer que tenha sido uma vida satisfatória e sempre me expliquei achando que no fundo eu era mesmo uma Cigarra e a vida da Formiga não me faria feliz. Pesava o que parecia ser a falta de coragem de ser de outro modo.
Faz pouco tempo venho retomando este assunto... Hoje vejo que se eu fosse mesmo Cigarra, não teria suportado a vida de Formiga. Então acho que sou mesmo uma Formiga que precisa compreender nas entranhas (e não somente com estes raciocínios...) que só podemos ser o que somos, que ser Formiga é importante e necessário, e que as Cigarras precisam de Formigas que lhes dêem valor.
Resumindo, sendo Formiga ainda admiro e amo Cigarras. Sendo como sou não preciso deixar de sonhar e nem de saborear e dar valor a tudo de bom que as Cigarras fazem e produzem e que resgatam de uma forma ou de outra meus sonhos da juventude.