Exausto do trabalho resolvi dar uma pausa e caminhar pelo jardim da poesia. Como sempre entrei hesitante olhando tudo ao redor. Tudo me interessava ali mas cada verso, cada linha, cada palavra exigia atenção absoluta...
Meu coração foi se apaziguando, a adrenalina foi se dissolvendo... Já não ouço os sons da batalha e dos pensamentos: vistoria, sistema com problemas, tensão, pressão... Se faz então, quase total silêncio ao meu redor não fossem as crianças que brincam na sala.
Passo as mãos pelo cabelo, depois pelos olhos e escorrego um carinho nos braços que arrepiados me dão conta de que eu sou mais do que um ser que raciocina sobre problemas complicados com olhos para ver monitor, ouvidos para ouvir conversas, boca para falar e mãos para teclar.
Me dou conta de que existe um corpo e uma alma. Relaxo alguns músculos... Me levanto um pouco e ando. Tomo um copo de água e sigo por este jardim do reino das criações.
Sigo então nesta imensidão de versos e histórias de grandes pessoas quando encontro um senhor de que muito ouvi falar: Bertolt Brecht. Que sei dele? Pouco... Quase nada.
Me vejo então diante deste que sentado em um banco deste imenso jardim com as mãos atrás da cabeça me olhava nos olhos com um sorriso maroto. Ansioso por partilhar de sua intimidade, lhe pergunto com arrogância:
- Porque me chamou? - Ele me responde:
- Eu não sei. O que importa? Deixe de pensar demais... Sente aqui vai!
Sento e ouço o que me diz.
Voltei alguns minutos depois: alma renovada, desperto!
Releituras - Bertolt Brecht - "Aos que vierem depois de nós" - Tradução de Manuel Bandeira.
Tudo a ver.