Pais e filhos

Não, hoje não é dia dos pais.

Então por isto mesmo, vou falar dos meus dias de pai. Ontem aconteceram algumas coisas que me troxeram outras lembranças e reflexões que resolvi compartilhar. Estou com meus filhos nos últimos dias de férias deles até o carnaval. Como estou trabalhando não posso dar toda a atenção que eu gostaria mas fazem dois anos que venho praticando estes encontros nas férias deles convivendo comigo nos dias normais de trabalho.




Ontem, meu filho acordou e me viu na cozinha fazendo café e me perguntou aonde eu ia. Respondi que não ia para lugar algum e ele quis saber porque eu estava arrumado para sair. Expliquei então que eu gostava de me vestir para trabalhar como as outras pessoas fazem. Ele achou engraçado já que eu trabalho em casa e eu, achei graça também.

As mudanças em minha vida são enormes. Passo a maior parte do tempo aqui sozinho e realmente receber duas crianças aqui muda tudo. Para eles é férias mas para mim é uma prática de nos conhecermos e aprendermos a conviver juntos. No início surgem estranhamentos de todos mas com o tempo nos acertamos. Aprendemos a conviver e começamos a aproveitar uns aos outros, como aconteceu ontem.




Me lembro de quando me separei minha maior preocupação eram justamente como eles ficariam naquele turbilhão de acontecimentos. Me sentia muito responsável pelo que aconteceria a partir daquele momento e depois vi que realmente dependia muito de mim e da mãe deles. Felizmente para todos, fomos capazes de nos entender bem nisto e sem dúvida alguma por um grande esforço e pelo que percebo ser um grande mérito dela.

Depois uma terapeuta me contou que os homens em geral criam vínculos com os filhos no casamento através das esposas-mães e que nas separações eles precisam construir (ou reconstruir) vínculos diretos com os filhos. Foi exatamente o que precisei fazer porque até então quase tudo com eles era intermediado pela mãe.



Infelizmente, muitos não conseguem fazer isto e a relação fica limitada ao pagamento dos alimentos e aos encontros periódicos repletos de estranhamentos. Não são incomuns os pais que deixam os filhos com os avós e inventam mil motivos para darem uma saída ou que deixam os filhos na companhia da TV, do DVD ou dos "games" e vão dormir. A tentação é grande.



Isto quando pagam os alimentos e quando ainda pegam as crianças.

Alguns pais podem achar que isto não acontece com eles e que não precisam construir vínculos porque eles amam e sempre amaram os filhos. Gostaria assim de deixar um pedido para os homens que se separam: não pensem que é ficção, a maioria de nós pais realmente precisa recontruir estes vínculos.

No fundo e a bem da verdade, acontece com as mães também. Que mulher entra na sala de parto sem vínculos com a imagem de seus filhos? Toda mãe não precisa se desfazer das ilusões e adotar a pessoinha real que encontra em seus braços? Infelizmente aqui também nem todas conseguem e como é mais complicado para uma mãe abandonar os filhos (como fazem alguns pais), muitas passam a vida tentando transformar aquela pessoa na imagem que cultivaram.



Descobri então depois que além de criar estes vínculos e desenvolver este amor com meus filhos havia aprendido a fazer isto também com os filhos de outras pessoas. Na verdade acho que todos nós, precisamos fazer isto. E no final é bem mais fácil com as crianças. Ver a pessoa, aprender sobre ela, compreender, respeitar e desenvolver o amor.

Assim, criamos nosso jeito de cuidar de criança e talvez de adulto e de velho. Assim, percebi que isto não é tão difícil depois que começamos a aprender porque o amor também acontece assim: no exercício da convivência, do cuidado, do respeito e do aprendizado de se dar ao outro.